Em 21 de maio de 2010 19:12, Juliana Caldas escreveu:
Queridos,
foi muito linda, poética e emocionante nossa apresentação de hoje!
Gostaria de agradecer a todos pelo comprometimento, confiança, carinho e inspiração em todo esse experimento....
Ver ali, na cena final, a voz de cada um de nós impressa na luz, no som, no cenário, no texto, nos movimentos e ritmos foi incrível e inesquecível.
Acho que a vida é feita de retalhos, de passagens, de acasos e também de encontros, e esse nosso encontro foi MÁGICO!
Só evoco aos céus, que nossos caminhos estejam sempre abertos, e sejam iluminados e inspirados pelo suspiro da vida de todo dia e pela sutileza poética e dialética dos relacionamentos humanos, essenciais.
Um grande beijo em cada um de vocês, com amor e gratidão infinita, Juliana.
Juliana Caldas
terça-feira, 25 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
Cereja do Dia
"Estou mergulhada num sonho neste momento, será que não percebe?"
(Duniacha,página 62 - Tradução de Millôr Fernandes/ LPM Pocket)
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Cereja do Dia
"Quem sabe? O que quer dizer morrer? Talvez o homem tenha cem sentidos e ,quando morrem os cinco que nós conhecemos, 95 comecem a viver."
(Trofímov, página 45 -Tradução de Millôr Fernandes LPM Pocket)
Judi Dench "The cherry orchard"
Tem um vídeo bem legal da primeira parte do filme da Judi Dench "The cherry orchard" que é justamente a parte que estamos trabalhando. Tá em inglês, mas dá pra entender porque o texto é praticamente o mesmo da peça. Acho legal como referência.
http://www.youtube.com/watch?v=eeFMWSbincc
Via Thaís Vidal
http://www.youtube.com/watch?v=eeFMWSbincc
Via Thaís Vidal
Atmosfera do Realismo Fantástico (ou Maravilhoso; ou Mágico)
A foto traz uma coisa que eu sinto sobre a atmosfera e o texto traz um questionamento interessante sobre o realismo a realidade e que tipo de realismo nós queremos fazer.
Uma grande característica, dizem os teóricos, é a de, com determinado cuidado estético, o autor envolver na obra fatos reais e imaginários, verdade e sonho, com distorções de tempo e de espaço, fazendo com que a história adquira uma vibração própria, característica. Trabalha-se a exploração dos sentidos, especialmente aqueles que não têm explicação clara (superstição, crenças populares…), além de se incutir certa crítica social, mostrando que ‘há mais coisas do que simplesmente o que se vê’ (lembre-se do contexto das ditaduras americanas, bem como o florescimento do ideal revolucionário no mundo, subseqüente à experiência cubana)…
Grandes nomes do gênero são Gabriel García Márquez (1927-), colombiano, Julio Cortázar (1914-1984) e Jorge Luis Borges (1899-1986), argentinos.
Borges, García Márquez, Cortázar...
Bem… por que vem à tona um post desses? Na verdade, não sei… Li, por esses dias – por causa da faculdade – “The curious case of Benjamin Button”, de F. Scott Fitzgerald (detalhe: não vi o filme, e li o conto em inglês), que encerra um pouco do ‘maravilhoso’ mencionado acima. Ficou-me a sensação de certo incômodo, um desconforto… como havia tido ao ler A hora dos ruminantes, do José J. Veiga, há alguns anos. E Incidente em Antares (lembrou-me ontem o Denis), do Érico Veríssimo…
Qual a explicação? Esse fator sobrenatural, absurdo, tão adverso à realidade ‘lógica’, ‘racional’ e física do homem do novo milênio, poderia de alguma forma ser absorvido como “normal”, ser assimilado por mim, por nós, caso ocorresse?
Se é que não ocorre…
Quão longe estamos do onírico? Ou.. quão perto? Acho que é isso que incomoda. E não sou, de fato, um racionalista, ou um agnóstico, por assim dizer, para ter alguma resistência a essa questão. Só que…
Via Juliana Caldas
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O Branco
Olá pessoal! Eis que falaremos da cor absoluta, que não possui outras variações a não ser aquelas que vão do fosco ao brilhante: o Branco, que significa ausência ou soma das cores.
Assim como o preto, sua contra-cor, o branco pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática. Muitas vezes se coloca no início e, outras vezes no fim, no término da vida diurna. É vibrante e estimulante por ser a união de todas as cores. Produz troca de energia e capta bem a energia solar. Favorece a clareza, é a cor da verdade.
O branco é a cor da candidatura, de quem vai mudar de condição ou a condição de outros.
Na coloração dos pontos cardeais é natural. Não se estranha que a maioria dos povos tenha feito do branco a cor do Este e Oeste, dos dois pontos extremos e misteriosos onde o Sol, astro do pensamento diurno, nasce e morre todos os dias.
Em ambos os casos o branco é o valor-limite, assim como as duas extremidades da linha infinita do horizonte.
É a cor da passagem, no sentido a que nos referimos ao falar dos rituais de passagem: e é justamente a cor privilegiada desses rituais, através dos quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento.
O branco do Oeste e o branco fosco da morte, que absorve o ser e o introduz ao mundo lunar, frio, fêmea. Conduz à ausência, ao vazio, ao desaparecimento da consciência (sempre bem representado no cinema quando em pensamento ou memória - flashes com branco ou imagem embranquecida) e das cores diurnas.
Todo simbolismo da cor branca, e de seus usos rituais, decorre da observação da natureza, a partir da qual todas as culturas edificaram seus sistemas filosóficos e religiosos.
O pintor Kandinsk, para quem o problema das cores ultrapassavam e muito o problema da estética, exprimiu-se sobre esse tema:
O branco, que muitas vezes se considera como uma não-cor... é como o símbolo de um mundo onde todas as cores, em sua qualidade de propriedades de substâncias materiais, se tenham desvanecido... O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto... Esse silêncio não está morto, pois transborda de possibilidades vivas. É um nada, pleno de alegria juvenil, ou melhor, um nada anterior a todo nascimento, anterior a todo começo. A terra, branca e fria, talvez tenha soado assim nos tempos da era glaciária. Seria impossível descrever melhor, sem dizer-lhe o nome, a alvorada.
Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, pois todo nascimento é um renascimento. Por isso, o branco é primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda ocorre em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo, na Europa e em especial, na corte dos reis da França.
Sob seu aspecto nefasto, o branco se contrapõe ao vermelho: é a cor do vampiro a buscar, precisamente, o sangue - condição do mundo diurno - que se retirou. É a cor da mortalha, de todos os espectros, de todas as aparições. O primeiro homem branco a aparecer entre os bandos do sul dos Camarões teria sido chamado de o fantasma-albino.
O branco é a cor dos primeiros passos da alma, antes do alçar vôo dos guerreiros sacrificados. Por essa mesma razão, todos os deuses do Panteão Asteca, cujo mito celebra um sacrifício seguido de renascimento, usavam ornamentos brancos.
Vestiam-se os condenados com uma camisa branca, significativa de submissão e de disponibilidade, esta é uma prática ainda encontrada nos dias de hoje.
Igual significado tem também a vestimenta branca dos comungantes e a da noiva ao dirigir-se ao encontro de seu parceiro.
Costumava-se chamar, erradamente, essa roupa de vestido de noiva ou de casamento. É o vestido daquela que se dirige para o casamento.
Uma vez realizado esse casamento, o branco cederá lugar ao vermelho, assim como a manifestação do despertar do dia, sobre o pano de fundo da alvorada fosca e neutra como um lençol, será constituída pela aparição de Vênus, a vermelha. Mais tarde seria a menção à núpcias do dia.
É a cor da pureza, é passiva e limpa, desprovida de qualquer tipo de influência sendo assim extremamente neutra, mostrando apenas que nada foi realizado ainda. É o sentido da origem da brancura virginal e a razão para que no ritual cristão, as crianças sejam enterradas debaixo de um sudário branco ornado de flores brancas.
A valorização positiva que se dá ao branco pode estar ligada ao fenômeno iniciático. É o atributo que se dá a quem se renasce, ao recomeço ou a vitória. Isso pode explicar o fato de se iniciar cada ano com vestimentas brancas.
Outro exemplo dessa valorização positiva é a toga viril, símbolo de afirmação, de responsabilidade assumida, de poderes reconhecidos, de renascimento realizado, de consagração. Nos primeiros tempos de cristianismo, o batismo, que é ritual iniciático, chamava-se a Iluminação e era após ter pronunciado seus votos que o novo cristão, nascido para a verdadeira vida, veste uma resplandecente toga branca.
O branco é cor essencial da sabedoria, vinda das origens do homem; o vermelho é a cor do ser, mesclado às obscuridades do mundo e prisioneiro de seus entraves; tal é o homem sobre a terra, arcanjo purpurado.
No budismo Japonês, a auréola branca e o lótus branco estão associados ao gesto de punho do conhecimento do grande iluminador Buda, em contraposição ao vermelho e ao gesto de concentração.
O branco, cor iniciadora, passa a cor da revelação da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que o ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), cujo vestígio permanecerá ao redor da cabeça de todos aqueles que tenham conhecido Deus, sob a forma de uma auréola de luz que é exatamente a soma das cores.
Os dentes brancos são símbolos de inteligência e sabedoria, pode se relacionar sempre a riqueza de conhecimento.
Isso pode explicar a grande associação dessas duas cores na bandeira do Vaticano, através da qual acaba a se afirmar na terra o reino do Deus cristão.
O branco traz leveza, o espaço, a liberdade, o vazio, a frieza, a verdade, a ausência, a limpeza, o infinito, a luz... a sabedoria, a inteligência, a divindade, o bem, o recomeço...
Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
http://imasters.uol.com.br/artigo/3471/teoria/o_branco/
Autor: Wellington Carrion
Via Juliana Caldas
Assim como o preto, sua contra-cor, o branco pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática. Muitas vezes se coloca no início e, outras vezes no fim, no término da vida diurna. É vibrante e estimulante por ser a união de todas as cores. Produz troca de energia e capta bem a energia solar. Favorece a clareza, é a cor da verdade.
O branco é a cor da candidatura, de quem vai mudar de condição ou a condição de outros.
Na coloração dos pontos cardeais é natural. Não se estranha que a maioria dos povos tenha feito do branco a cor do Este e Oeste, dos dois pontos extremos e misteriosos onde o Sol, astro do pensamento diurno, nasce e morre todos os dias.
Em ambos os casos o branco é o valor-limite, assim como as duas extremidades da linha infinita do horizonte.
É a cor da passagem, no sentido a que nos referimos ao falar dos rituais de passagem: e é justamente a cor privilegiada desses rituais, através dos quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento.
O branco do Oeste e o branco fosco da morte, que absorve o ser e o introduz ao mundo lunar, frio, fêmea. Conduz à ausência, ao vazio, ao desaparecimento da consciência (sempre bem representado no cinema quando em pensamento ou memória - flashes com branco ou imagem embranquecida) e das cores diurnas.
Todo simbolismo da cor branca, e de seus usos rituais, decorre da observação da natureza, a partir da qual todas as culturas edificaram seus sistemas filosóficos e religiosos.
O pintor Kandinsk, para quem o problema das cores ultrapassavam e muito o problema da estética, exprimiu-se sobre esse tema:
O branco, que muitas vezes se considera como uma não-cor... é como o símbolo de um mundo onde todas as cores, em sua qualidade de propriedades de substâncias materiais, se tenham desvanecido... O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto... Esse silêncio não está morto, pois transborda de possibilidades vivas. É um nada, pleno de alegria juvenil, ou melhor, um nada anterior a todo nascimento, anterior a todo começo. A terra, branca e fria, talvez tenha soado assim nos tempos da era glaciária. Seria impossível descrever melhor, sem dizer-lhe o nome, a alvorada.
Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, pois todo nascimento é um renascimento. Por isso, o branco é primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda ocorre em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo, na Europa e em especial, na corte dos reis da França.
Sob seu aspecto nefasto, o branco se contrapõe ao vermelho: é a cor do vampiro a buscar, precisamente, o sangue - condição do mundo diurno - que se retirou. É a cor da mortalha, de todos os espectros, de todas as aparições. O primeiro homem branco a aparecer entre os bandos do sul dos Camarões teria sido chamado de o fantasma-albino.
O branco é a cor dos primeiros passos da alma, antes do alçar vôo dos guerreiros sacrificados. Por essa mesma razão, todos os deuses do Panteão Asteca, cujo mito celebra um sacrifício seguido de renascimento, usavam ornamentos brancos.
Vestiam-se os condenados com uma camisa branca, significativa de submissão e de disponibilidade, esta é uma prática ainda encontrada nos dias de hoje.
Igual significado tem também a vestimenta branca dos comungantes e a da noiva ao dirigir-se ao encontro de seu parceiro.
Costumava-se chamar, erradamente, essa roupa de vestido de noiva ou de casamento. É o vestido daquela que se dirige para o casamento.
Uma vez realizado esse casamento, o branco cederá lugar ao vermelho, assim como a manifestação do despertar do dia, sobre o pano de fundo da alvorada fosca e neutra como um lençol, será constituída pela aparição de Vênus, a vermelha. Mais tarde seria a menção à núpcias do dia.
É a cor da pureza, é passiva e limpa, desprovida de qualquer tipo de influência sendo assim extremamente neutra, mostrando apenas que nada foi realizado ainda. É o sentido da origem da brancura virginal e a razão para que no ritual cristão, as crianças sejam enterradas debaixo de um sudário branco ornado de flores brancas.
A valorização positiva que se dá ao branco pode estar ligada ao fenômeno iniciático. É o atributo que se dá a quem se renasce, ao recomeço ou a vitória. Isso pode explicar o fato de se iniciar cada ano com vestimentas brancas.
Outro exemplo dessa valorização positiva é a toga viril, símbolo de afirmação, de responsabilidade assumida, de poderes reconhecidos, de renascimento realizado, de consagração. Nos primeiros tempos de cristianismo, o batismo, que é ritual iniciático, chamava-se a Iluminação e era após ter pronunciado seus votos que o novo cristão, nascido para a verdadeira vida, veste uma resplandecente toga branca.
O branco é cor essencial da sabedoria, vinda das origens do homem; o vermelho é a cor do ser, mesclado às obscuridades do mundo e prisioneiro de seus entraves; tal é o homem sobre a terra, arcanjo purpurado.
No budismo Japonês, a auréola branca e o lótus branco estão associados ao gesto de punho do conhecimento do grande iluminador Buda, em contraposição ao vermelho e ao gesto de concentração.
O branco, cor iniciadora, passa a cor da revelação da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que o ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), cujo vestígio permanecerá ao redor da cabeça de todos aqueles que tenham conhecido Deus, sob a forma de uma auréola de luz que é exatamente a soma das cores.
Os dentes brancos são símbolos de inteligência e sabedoria, pode se relacionar sempre a riqueza de conhecimento.
Isso pode explicar a grande associação dessas duas cores na bandeira do Vaticano, através da qual acaba a se afirmar na terra o reino do Deus cristão.
O branco traz leveza, o espaço, a liberdade, o vazio, a frieza, a verdade, a ausência, a limpeza, o infinito, a luz... a sabedoria, a inteligência, a divindade, o bem, o recomeço...
Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
http://imasters.uol.com.br/artigo/3471/teoria/o_branco/
Autor: Wellington Carrion
Via Juliana Caldas
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Notícias nossas no site da escola...
GRUPO 1 DO EXPERIMENTO: O ERRO, O ACERTO E O CEREJAl
O Grupo 1 da etapa Experimento dos Cursos Regulares da SP Escola de Teatro ficou encarregado de montar uma cena de 15 minutos do espetáculo “O Cerejal”, de Anton Tchekhov. Composto por aprendizes de Direção, Dramaturgia, Cenografia e Figurino, Técnicas de Palco, Sonoplastia, Iluminação e Atuação, a equipe é uma das quatro que trabalham com cenas dramáticas. Os outros quatro grupos são responsáveis por peças cômicas.
A discussão seguiu calorosa durante toda a manhã de quarta-feira, 5 de Maio. Antonia Matos, Sandra Storino e Juliana Caldas, aprendizes de Direção, trouxeram as investigações que realizaram em conversas com os colegas das outras turmas e pesquisas pessoais.
Todos os alunos trabalham em conjunto com a orientação de um observador, formado por um profissional da Escola. Na sonoplastia, pensam em instrumentos tribais, como cabaça e djembê para fortalecer a atmosfera da história. A cenografia será composta de portas, janelas, além de terra e água. O figurino será basicamente branco, destacando a ideia do estado de lembrança e memória em que as personagens vivem.
A dramaturgia só será fechada a partir da disposição das falas dos atores dentro da sala de ensaio. “A montagem ainda será realista, mas não a do século XIX e, sim, uma visão nossa em cima dessa linguagem”, disse Matos.
Cada grupo recebeu R$ 300 reais da Instituição para fazer a produção das cenas. Os aprendizes de Cenografia e Figurino foram bater perna no Brás em busca de tecidos e outros materiais para construir os elementos necessários.
Toda criação é livre. A observadora, que no Grupo 1 é Cris Zuan Esteves, formadora do curso de Atuação, só interrompe o processo em momentos específicos para pontuar ações e esclarecer dúvidas do trabalho.
Todos estavam entusiasmados com a liberdade de criação, com o desenvolvimento do trabalho e com o aprendizado que vai se estruturando na prática. “Agora, vamos voltar para as nossas pesquisas. O que surgir, precisamos testar em cena. Nos interessa o erro e o acerto, mas precisamos testar”, conclui a aprendizes de Direção Antonia Matos.
A apresentação final do processo é entre os dias 21 e 22 de Maio, no Teatro Aliança Francesa, Centro de São Paulo.
http://www.spescoladeteatro.org.br/noticias/147.php
O Grupo 1 da etapa Experimento dos Cursos Regulares da SP Escola de Teatro ficou encarregado de montar uma cena de 15 minutos do espetáculo “O Cerejal”, de Anton Tchekhov. Composto por aprendizes de Direção, Dramaturgia, Cenografia e Figurino, Técnicas de Palco, Sonoplastia, Iluminação e Atuação, a equipe é uma das quatro que trabalham com cenas dramáticas. Os outros quatro grupos são responsáveis por peças cômicas.
A discussão seguiu calorosa durante toda a manhã de quarta-feira, 5 de Maio. Antonia Matos, Sandra Storino e Juliana Caldas, aprendizes de Direção, trouxeram as investigações que realizaram em conversas com os colegas das outras turmas e pesquisas pessoais.
Todos os alunos trabalham em conjunto com a orientação de um observador, formado por um profissional da Escola. Na sonoplastia, pensam em instrumentos tribais, como cabaça e djembê para fortalecer a atmosfera da história. A cenografia será composta de portas, janelas, além de terra e água. O figurino será basicamente branco, destacando a ideia do estado de lembrança e memória em que as personagens vivem.
A dramaturgia só será fechada a partir da disposição das falas dos atores dentro da sala de ensaio. “A montagem ainda será realista, mas não a do século XIX e, sim, uma visão nossa em cima dessa linguagem”, disse Matos.
Cada grupo recebeu R$ 300 reais da Instituição para fazer a produção das cenas. Os aprendizes de Cenografia e Figurino foram bater perna no Brás em busca de tecidos e outros materiais para construir os elementos necessários.
Toda criação é livre. A observadora, que no Grupo 1 é Cris Zuan Esteves, formadora do curso de Atuação, só interrompe o processo em momentos específicos para pontuar ações e esclarecer dúvidas do trabalho.
Todos estavam entusiasmados com a liberdade de criação, com o desenvolvimento do trabalho e com o aprendizado que vai se estruturando na prática. “Agora, vamos voltar para as nossas pesquisas. O que surgir, precisamos testar em cena. Nos interessa o erro e o acerto, mas precisamos testar”, conclui a aprendizes de Direção Antonia Matos.
A apresentação final do processo é entre os dias 21 e 22 de Maio, no Teatro Aliança Francesa, Centro de São Paulo.
(Texto e Fotos do Lucas)
terça-feira, 4 de maio de 2010
Cereja (anti-existencialista?) do Dia
"Você não faz nada! Se deixa levar pra lá e pra cá, pelo destino."
(Liuba a Trofímov,página 57 - tradução Millôr Fernandes,LPM Pocket)
domingo, 2 de maio de 2010
Cereja do dia
"Mamãe não se emenda. Se deixarmos,ela dá tudo o que tem."
(Vária,página 31- Tradução Millôr Fernandes LPM Pocket)
(Vária,página 31- Tradução Millôr Fernandes LPM Pocket)
Os Orixás
Para o Iorubá, os Orixás são ancestrais divinos, homens e mulheres, que por terem feito atos excepcionais enquanto vivos, destacaram-se na comunidade e passaram a ser cultuados por seus descendentes e até mesmo por outros clãs. Os Orixás passam a deter os ensinamentos da comunidade. Estes feitos excepcionais ou heróicos são entendidos como a capacidade de controle e uso das forças da natureza ou Axé. Axé, em Iorubá, é compreendido como energia vital, presente em todos os elementos da natureza, sem Axé não haveria existência; é o princípio que torna possível a vida. O Axé pode ser transmitido a outros objetos ou seres humanos.
Entendemos os Orixás como personagens arquetípicos que reúnem em seu sistema mitológico ensinamentos valiosos sobre as mais variadas áreas de experiência humana e são as expressões de grandes forças cósmicas, estando associados ao mito da criação e seu Axé. Divindades, os Orixás são o meio de comunicação de um deus, superior e distante, com os homens. Estabelecem, desta forma, o contato entre o mundo sagrado e o mundo dos homens, representando uma força universal.
A determinação do Orixá protetor é de grande importância, uma vez que se acredita que cada ser humano, desde o momento em que foi concebido, já tem o seu Orixá protetor de cabeça.
O corpo humano, para o Iorubá , é um microcosmo e nele estão contidos todos os elementos e forças da natureza que, distribuídos harmoniosamente pelo corpo, explicam a sua mitologia. Segundo Augras,
“…os pés apoiam-se no concreto, no barro de onde saiu e para onde voltará, na terra que os antepassados pisaram e à qual retornaram. O pé direito corresponde à herança dos antepassados masculinos, e o pé esquerdo, à herança feminina. As mãos direita e esquerda, atuam sobre o mundo e transformam as coisas. A cabeça, que reproduz as quatro dimensões do espaço, contém, na interseção dos pontos cardeais, o centro da individualidade, ori-inu, manifestação do duplo sagrado, que provém de substância divina, da qual os próprios deuses são tributários” (1983,62).
Na tentativa de estabelecer contato com o divino, o reconhecimento dos deuses acontece primeiramente no corpo dos seus fiéis, com a representação feita através de uma atividade corporal, que catalisa os sentimentos e sensações dos arquétipos e as forças da natureza, a dança. Por essa importância dada ao corpo, a dança no ritual representa um determinante elemento do processo, pois é por intermédio desta que acontece a corporificação da entidade; o corpo, ao dançar, intermedia o mundo sagrado com o profano.
Na utilização de movimento, cantos e ritmos e na perspectiva de harmonizar-se com eles, teatralizam seus deuses encarnados e os recontam, através de um desenvolvimento muito bem definido e rígido, que inclui ritos de entrada, transe e ritos de saída.
AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS
A água é muito utilizada nas casa de Candomblé. Em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante, desde o rito do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as ajé, até o ritual das águas de Oxalá, quando ela representa a limpeza lustral do egbe.
Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Diría ainda que as águas de Oxalá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado.
É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exu e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.
Entre os eboras ou orixás femininos, destacamos aqui Nàna que está associada à terra, à lama e também às águas. Nàna ou Nàna Burúkú ou Nàna Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons.
Outro orixá feminino associado à água é o orixá Òsun. Oxum tem toda a sua história ligada às águas pois, na Nigéria, Òsun é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do orixá.
Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oya".
Não diferente dos demais orixás femininos, Yemanjá também está muito ligada às águas. É o orixá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemonja e o rio Ogun – não confundir com o orixá Ogun, Deus do ferro. Daí Yemonja estar associada à expressão Odò Iyá, ou seja, "Mãe dos Rios".
Resumindo, a água é um elemento natural aos orixás femininos. Não só dentro do culto de Candomblé, mas como em toda a vida, ela é de suma importância pois, como é dito, a água é o princípio da vida.
EWÁ
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.
IANSÃ
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história conta que Iansã percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru (rabo de boi ou de búfalo)
IEMANJÁ
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É Iemanjá que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar, viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
Mitologia
Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.
NANÃ
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBÁ
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
Mitologia
Uma vez banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária e tinha em mente tomá-la para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.
OXUM
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
ÒSUN (OXUM) - ORIGEM DO NOME DE OSOGBO
Òsun é o orixá considerado mãe da água doce e senhora do ouro.
O arquétipo das filhas de Òsun é o das mulheres graciosas e elegantes gostando do conforto, bom gosto e tendo um toque aristocrático em tudo que fazem.
Òsun também chamada de Iyalóòide em Osogbò, na Nigéria, onde iyá= "mãe" e lóòde="rainha de todos os rios".
Òsun tem fundamentalmente seus axés nas pedras do Rio Osun, nas jóias de cobre e num pente de tartaruga. O amor de Òsun pelo cobre, o metal mais precioso do país yorubá nos tempos antigos é mencionado nas saudações que assim lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Òsun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos.”
No Brasil, Òsun foi ligada ao ouro, isso devido a esse metal ser de grande importância para a confecção de jóias, uma das paixões de Òsun.
A cidade de Osogbò recebeu este nome depois que Laro, após muitas atribuições, veio instalar-se às margens do rio Òsun. Laro achou aquele local ideal para estabelecer uma cidade e ali fixar seu povo. Dias depois, uma das suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. No dia seguinte, ela retornou muito bem vestida e enfeitada com muitas jóias, dizendo ter sido muito bem tratada pela divindade do rio. Agradecendo então o regresso de sua filha, Laro dedicou à Òsun muitas oferendas e numerosos peixes. Mensageiros da divindade vieram comer em sinal de aceitação às oferendas que Laro havia depositado nas águas. Um grande peixe cuspiu-lhe água e ele a recolheu numa cabaça e bebeu: estava selada a aliança entre Òsun & Laro. Este peixe saltou sobre as mãos de Laro e a partir desse momento recebeu o título de Ataoejá ou Atáoja, que quer dizer “aquele que recebe o peixe (ejá)”e declarou Òsun Gbó ou “Òsun está em estado de maturidade”.
Essa foi a origem do nome da cidade de Òsogbo, onde até os dias de hoje encontram-se os descendentes de Laro que honram o pacto feito no passado.
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê
Entendemos os Orixás como personagens arquetípicos que reúnem em seu sistema mitológico ensinamentos valiosos sobre as mais variadas áreas de experiência humana e são as expressões de grandes forças cósmicas, estando associados ao mito da criação e seu Axé. Divindades, os Orixás são o meio de comunicação de um deus, superior e distante, com os homens. Estabelecem, desta forma, o contato entre o mundo sagrado e o mundo dos homens, representando uma força universal.
A determinação do Orixá protetor é de grande importância, uma vez que se acredita que cada ser humano, desde o momento em que foi concebido, já tem o seu Orixá protetor de cabeça.
O corpo humano, para o Iorubá , é um microcosmo e nele estão contidos todos os elementos e forças da natureza que, distribuídos harmoniosamente pelo corpo, explicam a sua mitologia. Segundo Augras,
“…os pés apoiam-se no concreto, no barro de onde saiu e para onde voltará, na terra que os antepassados pisaram e à qual retornaram. O pé direito corresponde à herança dos antepassados masculinos, e o pé esquerdo, à herança feminina. As mãos direita e esquerda, atuam sobre o mundo e transformam as coisas. A cabeça, que reproduz as quatro dimensões do espaço, contém, na interseção dos pontos cardeais, o centro da individualidade, ori-inu, manifestação do duplo sagrado, que provém de substância divina, da qual os próprios deuses são tributários” (1983,62).
Na tentativa de estabelecer contato com o divino, o reconhecimento dos deuses acontece primeiramente no corpo dos seus fiéis, com a representação feita através de uma atividade corporal, que catalisa os sentimentos e sensações dos arquétipos e as forças da natureza, a dança. Por essa importância dada ao corpo, a dança no ritual representa um determinante elemento do processo, pois é por intermédio desta que acontece a corporificação da entidade; o corpo, ao dançar, intermedia o mundo sagrado com o profano.
Na utilização de movimento, cantos e ritmos e na perspectiva de harmonizar-se com eles, teatralizam seus deuses encarnados e os recontam, através de um desenvolvimento muito bem definido e rígido, que inclui ritos de entrada, transe e ritos de saída.
AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS
A água é muito utilizada nas casa de Candomblé. Em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante, desde o rito do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as ajé, até o ritual das águas de Oxalá, quando ela representa a limpeza lustral do egbe.
Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Diría ainda que as águas de Oxalá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado.
É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exu e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.
Entre os eboras ou orixás femininos, destacamos aqui Nàna que está associada à terra, à lama e também às águas. Nàna ou Nàna Burúkú ou Nàna Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons.
Outro orixá feminino associado à água é o orixá Òsun. Oxum tem toda a sua história ligada às águas pois, na Nigéria, Òsun é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do orixá.
Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oya".
Não diferente dos demais orixás femininos, Yemanjá também está muito ligada às águas. É o orixá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemonja e o rio Ogun – não confundir com o orixá Ogun, Deus do ferro. Daí Yemonja estar associada à expressão Odò Iyá, ou seja, "Mãe dos Rios".
Resumindo, a água é um elemento natural aos orixás femininos. Não só dentro do culto de Candomblé, mas como em toda a vida, ela é de suma importância pois, como é dito, a água é o princípio da vida.
EWÁ
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.
IANSÃ
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história conta que Iansã percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru (rabo de boi ou de búfalo)
IEMANJÁ
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É Iemanjá que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar, viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
Mitologia
Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.
NANÃ
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBÁ
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
Mitologia
Uma vez banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária e tinha em mente tomá-la para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.
OXUM
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
ÒSUN (OXUM) - ORIGEM DO NOME DE OSOGBO
Òsun é o orixá considerado mãe da água doce e senhora do ouro.
O arquétipo das filhas de Òsun é o das mulheres graciosas e elegantes gostando do conforto, bom gosto e tendo um toque aristocrático em tudo que fazem.
Òsun também chamada de Iyalóòide em Osogbò, na Nigéria, onde iyá= "mãe" e lóòde="rainha de todos os rios".
Òsun tem fundamentalmente seus axés nas pedras do Rio Osun, nas jóias de cobre e num pente de tartaruga. O amor de Òsun pelo cobre, o metal mais precioso do país yorubá nos tempos antigos é mencionado nas saudações que assim lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Òsun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos.”
No Brasil, Òsun foi ligada ao ouro, isso devido a esse metal ser de grande importância para a confecção de jóias, uma das paixões de Òsun.
A cidade de Osogbò recebeu este nome depois que Laro, após muitas atribuições, veio instalar-se às margens do rio Òsun. Laro achou aquele local ideal para estabelecer uma cidade e ali fixar seu povo. Dias depois, uma das suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. No dia seguinte, ela retornou muito bem vestida e enfeitada com muitas jóias, dizendo ter sido muito bem tratada pela divindade do rio. Agradecendo então o regresso de sua filha, Laro dedicou à Òsun muitas oferendas e numerosos peixes. Mensageiros da divindade vieram comer em sinal de aceitação às oferendas que Laro havia depositado nas águas. Um grande peixe cuspiu-lhe água e ele a recolheu numa cabaça e bebeu: estava selada a aliança entre Òsun & Laro. Este peixe saltou sobre as mãos de Laro e a partir desse momento recebeu o título de Ataoejá ou Atáoja, que quer dizer “aquele que recebe o peixe (ejá)”e declarou Òsun Gbó ou “Òsun está em estado de maturidade”.
Essa foi a origem do nome da cidade de Òsogbo, onde até os dias de hoje encontram-se os descendentes de Laro que honram o pacto feito no passado.
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê
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referências
Nanã
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
Nanã Buruku ou Buku é considerada a mais antiga das divindades. Muito cultuada na África em regiões como: Daça Zumê, Abomey, Dumê, Cheti, Bodé, Lubá, Banté, Djabalá, Pesi e muitas outras regiões.
Para os fons e ewes, a palavra Nanã ou Nàná é empregada para se chamar de mãe as mulheres idosas e respeitáveis, ou seja, a palavra Nanã significa: "Respeitável Senhora".
Nanã está associada à terra, à água e à lama. Os pântanos e as águas lodosas são o seu domínio.
Como relatei no começo, é a mais antiga das divindades, pois representa a memória ancestral. Mãe de Loko ou Irokô, Omolu e Oxumare ou Becém na dinastia Fon, Nanã está ligada ao mistério da vida e da morte. É a senhora da sabedoria, mais velha que o ferro. Daí, não usar lâminas em seu culto.
Nanan proprietária de um cajado. Nanan salpicada de vermelho, suas roupas parecem banhadas em sangue, orisa que obriga o fon a falar nagô (ketu). Água parada que mata derrepente, ela mata uma cabra sem usar faca.
É considerada "orisa mais antigo do mundo". Quando orunmilá chegou aqui para frutificar a terra, ela já estava. Nanan desconhece o ferro por trata-se de um orixá da pré-história, anterior a idade do ferro. O termo nanan significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra.
NANÃ, A DEUSA DA VIDA E DA MORTE
Nanã é um orixá feminino de origem daomeana, adotada da África que representa o dogbê (vida) e a doku (morte). Ela acolhe em seu ventre os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (renascimento). Essa dualidade é representada por Nanã que personifica os pântanos. É neles que a mistura da água (vida) e da terra (morte), formando a lama, existe um portal entre as dimensões dos vivos e dos mortos. O pântano ou a lama, foi o local escolhido por Nanã para ser sua residência. Entretanto, para haver barro ou lama, tem que haver chuva, Nanã passou também a reger a chuva.
Nanã é conhecida por vários nomes, dependendo da região e do dialeto, mas em Dahomey (hoje Benin) na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, ela é conhecida como Nanã Buruku . Ela está fortemente ligada ao elemento terra e é chamada de "Senhora dos Pântanos", assinalando-a como uma Grande Mãe que é responsável pelo sopro da vida e conseqüentemente a morte.
Nanã sempre conduz os seres humanos com muita seriedade, justiça e determinação. Seus cânticos são súplicas para que a morte seja mantida afastada e que a vida seja preservada.
Sendo a personificação da "lama" ou da "chuva", Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura (período neolítico).
MITOLOGIA
Nanã de origem daomeana, foi incorporada há séculos pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida.
Nesse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos,. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.
Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o conceito de maternidade como função principal.
É neste contexto, que Nanã apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omulu (ou Obaluaê, orixá da varíola) e Oxumarê (orixá do arco-íris).
E teria tido uma filha, Ewá, nascida de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o mito.
NANÃ NO BRASIL
Aqui no Brasil, os escravos africanos introduziram com muito êxito suas divindades, como a Deusa Nanã, Oya, entre outras, nas religiões como o candomblé, a umbanda e o batuque. Essas religiões incluem a possessão por parte dos deuses. Quando Nanã se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba!
SEUS INICIADOS
Seus sacerdotes e sacerdotisas são experientes à prática da medicina através das ervas, pois Nanã é detentora do conhecimento do uso terapêutico delas (ervas). Mas a Deusa explica ainda, que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças podem ter origem espiritual e portanto, requer tratamento nesse sentido. Mas, qualquer que seja a origem da doença, se a pessoa enferma recorrer à Nanã, obterá o remédio curador.
Muitas mulheres recorrem à essa Deusa quando não conseguem engravidar e Nanã ensina prontamente a mistura de ervas que deve tomar, assim como os "ebós" e oferendas que devem ser feitos. Caso sejam atendidas, é costume na África, em homenagem à Deusa, acrescentar ao nome da criança a palavra "nanã". Todos seus sacerdotes e sacerdotisas também usam na frente do nome esse prefixo.
Na África as mulheres menstruadas são impedidas de entrar em seu templo ou fazer comida de santo. Nanã fala que a bogami (menstruação) é um sangue impuro e diz para as mulheres não cozinharem para seus maridos quando estiverem menstruadas. Aqui vemos claramente traços de um período muito arcaico (neolítico) em que o sangue da menstruação ainda era considerado impuro.
NANÃ E HÉCATE
Nanã é também uma Deusa da Lua Escura que muito se assemelha a Hécate nas funções de regente dos processos misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da vida e da entrada nos caminhos árduos da transformação. A nível psíquico, essas passagens não podem ser eliminadas do curso normal da vida.
Nanã, assim como Hécate é a Deusa Terra primordial que dá nascimento às sementes e acolhe em seu seio os mortos. Tanto pode dar vida como a morte, seqüências da mesma realidade. É ainda, Dona da sabedoria e da justiça, que vem da natureza e a sua lei é implacável.
Nanã o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro, que é feito com palitos de dendezeiro e nasceu junto com ela, na sua placenta. O sincretismo de Nanã com Sant'Ana, avó maternal de Jesus, e padroeira dos professores, reforça a impressão de que ela é muito antiga e que sua chegada ao Brasil foi anterior à dos Yorubas.
A Deusa tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nana.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nana é o "grão", pois ela possui o domínio da agricultura e todo "grão" tem que morrer para germinar.
MITOLOGIA
LENDA 1 (Mitologia Fon)
Na mitologia Fon, Nanã Buruku (ou Buluku) que deu nascimento ao gêmeos: Lisa e Mawu. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Mawu-Lisa criaram todo o Universo e os Voduns juntos. Eles eclipsaram várias vezes e tiveram no total sete casais de gêmeos (sempre um masculino e o outro feminino).
Mawu e Lisa chamaram seu filhos e os enviaram à Terra como os primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma atribuição. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio ao mundo e aos seres viventes.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão. Já Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam cumpridas.
Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado na rica, complexa e elevada Mitologia Fon. Sua entrada no em nosso país ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
NANÃ BURUKU
Nanã Buruku está associada com as Onze Energias cósmicas e é íntima delas compreendidas ma religião da Umbanda. É denominada como a "Avó de todos os Orixás". Nada acontece sem que ela tenha conhecimento, sempre presente, desde a criação incessante do universo até o desenrolar contínuo da atividade existencial de todos os seres e elementos que compõem o organismo vivo do nosso planeta. Soma-se com outras Energias para, juntas, comporem a forma mais sutil e perspicaz orixá: Oxumaré que personifica a curva do arco-íris.
Na Umbanda, Nanã é configurada pelos fiéis e "filhos de cabeça" como sendo fisicamente uma senhora sempre curvada pelo peso das eras e cujo rosto nunca é visto, porque está sempre encoberto. Sua imagem está projetada na figura de um devoto que canta e dança em seu louvor, mimeticamente, como se embalasse uma criança. Outras vezes com as mãos juntas como se socasse um pilão. Sua postura em muito se parece com o orixá Omolu com o qual parte e reparte suas próprias vibrações preferenciais e idiossincrásicas.
É conhecida também por: Bukuú (Togo), Naná Buluku (Benin, ex-Daomé), Borokô (candomblés de caboclo), Tobossi (fantiashanti), Kerê-Kerê (Angola e Congo) e mais as variantes Naná, Nanã, Nanã Buruquê, Buruku, Ananburuquê, Anaburuku, Naná Buku, Naná Brukung e, na língua yoruba como Nanã Buruiku.
LENDA 2
Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o Homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a terra, voltar a natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Essa lenda descreve a natureza de Nanã como a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
LENDA 3
Essa terceira lenda conta que Nanã foi conquistar o reino de Oxalá e acabou sendo conquistada por ele. Entretanto, o deus amava muito sua esposa, Iemanjá, e jamais se envolveria com Nanã. Essa então, o embriagou e o seduziu, engravidando. Desse ato adúltero nasceu Obaluiaê, uma criança muito feia e deformada que foi abandonada no mar. Iemanjá o encontrou meio morto e todo mordido pelos peixes e o cuidou até que ficasse curado. Para esconder as cicatrizes que permaneceram em seu corpo, ele foi coberto de palha. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.
Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas.
Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.
Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando desgraças aconteçam aos homens.
Essa lenda nos aconselha a nunca negar auxílio, qualquer que seja, às pessoas que nos procuram. Além disso, nos diz para termos esperança, pois "não há mal que sempre dure.." e sempre há um recomeço, mesmo após um grande e penoso sofrimento.
LENDA 4
"Nanã era esposa de Oxalá e ocupava o cargo de juíza no Daomé. Só julgava os homens, sendo muito respeitada pelas mulheres que eram consideradas Deusas.
Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma reclamação sobre seu marido, ela amarrava a pessoa numa arvore e pediu aos eguns para assustá-la.
Certa noite, Iansã reclamou de Ogum e ele foi amarrado no jardim. A noite, conseguiu escapulir e foi falar com ifá. A situação não podia continuar e, assim, ficou acertado que oxalá tiraria os poderes de Nanã. Ele se aproximou e ofereceu a ela suco de igbin, um tipo de caramujo. Ao beber o preparado, Nanã adormeceu. Oxalá então vestiu-se de mulher e, imitando o jeito de Nanã, pediu aos Eguns que fossem embora de seu jardim para sempre.
Quando Nanã acordou e percebeu o que Oxalá tinha feito, obrigou-o a tomar o mesmo preparado de igbin e seduziu o orixá. Oxalá saiu correndo e contou para Ogum o que havia acontecido. Indignado, este cortou relações com Nanã. E é por isso que nas oferendas a Nanã não é usado nenhum objeto de metal.
Uma outra lenda registra que, numa reunião, os orixás aclamaram ogum como o mais importante deles e que Nanã, não se conformando em ser derrotada por ele, assumiu que não mais usaria os utensílios de metal criados pelo orixá guerreiro (escudos e lanças de guerra, facas e setas para caça e pesca). Por isso, que ela não aceita oferendas em que apresentem objetos de metal."
(Lenda retirada do portal HYPERLINK "http://www.orixas.com.br" http://www.orixas.com.br )
Essa lenda, vem de encontro à tese de alguns historiadores que afirmam que a Deusa Nanã é anterior a Idade do Ferro.
DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM (Segundo Pierre Verger)
"Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.
Um dia eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu:
-"Ah! É um importante mensageiro!"
Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Eles dizem:
-"É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"
Nanã Buruku contesta, então:
-"Não digam isso. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"
Os demais orixás respondem:
-"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".
Nanã concluiu que não renderá homenagem a Ogum.
-"Porque não haverá um outro Imalé mais importante?"
Ogum diz:
-"Ah!Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."
Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos discutem por muito tempo.
Ogum perguntando:
-"Você pretende que seja dispensável?"
Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.
Ogum diz então:
"Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas".
Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.
Ogum questiona:
-"Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos".
Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã".
(Lenda retirada do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)
DEUSA DA VIDA, DA MORTE E DO RENASCIMENTO
Nanã é uma Deusa que se inseri no período Neolítico ou até antes dele, onde não existe distinção alguma entre a Deusa que atrai a vida e a que atrai a morte, mas ambas se experimentam como uma unidade, através da Grande Mãe que engloba a totalidade da vida e da morte. A Deusa transforma a experiência da morte em como o renascimento à outra dimensão.
O período Neolítico foi uma fase de descobrimentos e o resultado disso foi uma nova relação com o universo. Foi nesse tempo que a humanidade compreendeu e passou a participar dos misteriosos processos de crescimento. Com a compreensão que certas sementes podiam ser convertidas em trigo e depois transformados em pão, e que certos animais vivendo perto das casas, poderia prover-lhes de leite, carne, surgiu um novo espírito que cooperação consciente entre os seres humanos e seu mundo. A vida do cosmos se converteu em uma história que incluía o homem como um de seus personagens.
Os povos deste período não puderam de realizar uma analogia de suas vidas com as das sementes que, plantadas na terra, incubavam e voltavam a emergir como grão verde ou dourado. Os rituais que evocavam o nascimento, que chorava a morte e que celebravam o renascimento da raiz mostra o quanto era vital essa analogia para a imaginação humana, pois situava a regeneração como o núcleo da vida.
A fonte secreta da vida estava agora escondida nas profundezas da terra (útero da Deusa). Os seres humanos agora nascem dela, se alimentam dela e são acolhidos por ela.
As inumeráveis formas de cerâmica neolítica revelam o alcance imaginativo dos povos, que refletiam sobre o mistério do nascimento associando-o ao mais amplo mistério do nascimento de toda a vida mediante o "Corpo" da Deusa. As imagens da Deusa a mostram como o portal ou umbral através da qual penetra vida ou abandona esse mundo.
Toda a Grande Mãe, segundo Carl Jung, personifica o nosso inconsciente, portanto, um aspecto gerador, protetor e positivo, apesar do seu lado devorador e negativo. Todo o tipo de medo, como o medo da morte, do desconhecido, do novo, está ligado ao medo do inconsciente. O inconsciente, como a Grande Mãe, é a fonte primordial da criação, mas se o fascínio dela for forte demais, ela é o poder oculto que, em certas ocasiões, impede o livre desenvolvimento da comunicação normal. Mas, se encararmos essa realidade básica, podemos desistir de sermos tão agradáveis aos imperativos ideais do mundo patriarcal e atingirmos uma base sólida, de onde tudo isso parece irrelevante.
A DIFUSÃO DA DEUSA NEGRA
Dos tempos pré-históricos, em torno de trinta mil anos antes da era cristã, provém a Vênus negra de Lespugue, entalhada numa presa de mamute, agora preservada no Musée de l"Homme, em Paris. Por ser anterior a uma época em que não existia conhecimento algum de agricultura, ela é mais do que terra, ela é a própria Vida.
Em Tindari, na costa do Mediterrâneo no leste da Sicília, uma estátua negra da Nossa Senhora possui a inscrição: "nigra sum sed formoso", ou seja, "Sou negra, porém formosa", do Cântico de Salomão 1,5. A Virgem Negra também é encontrada na França, na Espanha, na Suíça e na Polônia.
Não poderia portanto ser essa Nossa Senhora negra a mais antiga das imagens da Deusa?
Há historiadores que postulam que da figura da Deusa Negra procedem todas as demais.
Apesar de que a humanidade surgiu no noroeste da África, é possível que os temas dominantes que se repetem nos mitos e nos rituais de todo o mundo só se desenvolveram quando os povoadores já haviam trasladado à outras regiões.
Historiadores negros do século XX, como John G. Jackson, afirmam que os povos africanos da costa foram consumados marinheiros e exploradores que levaram à Ásia, Europa, América e Oceania a cultura matriarcal da Deusa. Portanto, as virgens negras presentes na Europa, que são interpretadas como representantes da "lua escura" ou ainda, uma "escura faceta" psicológica da Deusa, não são mais do que vestígios da época em a Deusa era realmente negra.
É inegável a vastíssima contribuição da cultura africana na cultura, na religião e nos costumes aqui do Brasil. Nada mais fácil sentir esse contribuição no que tange as religiões que hoje são afro-brasileiras. Deusas como Iemanjá, Iansã, Oxum, Nanã entre muitas outras também importantes, são muito populares em nosso meio, mas sempre é bom acrescentarmos um pouco mais de conhecimento sobre elas.
Sem nos atermos em questionamentos religiosos, essas Deusas Mães, estão presentes e ativas em nossas vidas, para não nos deixar esquecer que o melhor dos caminhos é o do coração e o da fé. Todas elas simbolizam a força maior, a fagulha divina dentro de nós, a energia que flui nos próprios processos da vida e do viver. Esse conceito da Deusa como processo de vida conduz a outro aspecto da espiritualidade feminina contemporânea, observado entre muitos grupos e indivíduos. Trata-se do sentido da conexão direta com a vida. Muitos são os que pensam que não estamos no topo da natureza, e sim, "somos" a natureza. Esse senso de Unidade, aflora constantemente em conversas e escritos. Isso nos ajuda a compreender que aquilo que poderíamos considerar simplesmente como compaixão ou apoio ou simpatia é o resultado do sentir, intuitivo, dessa ligação direta com a unidade. Essa sensação de Unidade com toda a vida leva muitas mulheres, de forma bastante natural, a uma compreensão direta do motivo pelo qual o sexismo, o racismo e outros "ismos" que criam uma sensação de separação, de "nós e os outros", realmente não fazem sentido.
OUTROS DADOS
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Sincretismo: Nossa Senhora Santana
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Mugunzá; Ebô
Símbolo: Ìbírí (feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna).
Saudação: Salubá Nanã! ! ("Dona do pote da Terra!")
Comando da falange de Nanã: Cabocla Janaína
Representação no ponto riscado: uma cruz
Amalá: caruru sem azeite e bem temperado
Planeta regente: Lua (no quarto crescente) e Mercúrio
Ervas para banho e defumação: agapanto lilás, avenca, cipreste, manacá, quaresma, alfavaca, mariazinha, mãe-boa, sempre-viva roxa, erva de passarinho, cajá, mutamba, dama da noite, entre outras.
Flores: as que tenham preferencialmente a tonalidade lilás ou roxa.
Frutos: melão, melancia, abacaxi, banana da terra, graviola, pêssego, , jaca, maçã, entre outras.
Bebidas: Água da chuva, suco das frutas acima mencionadas, bebida feita com ervas e folhas do próprio orixá e champanha.
Local preferido: Nas nuvens ou na junção das águas da chuva com o solo barrento e pantanoso.
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terça-feira, 25 de maio de 2010
Alegrias que ficam...
Em 21 de maio de 2010 19:12, Juliana Caldas escreveu:
Queridos,
foi muito linda, poética e emocionante nossa apresentação de hoje!
Gostaria de agradecer a todos pelo comprometimento, confiança, carinho e inspiração em todo esse experimento....
Ver ali, na cena final, a voz de cada um de nós impressa na luz, no som, no cenário, no texto, nos movimentos e ritmos foi incrível e inesquecível.
Acho que a vida é feita de retalhos, de passagens, de acasos e também de encontros, e esse nosso encontro foi MÁGICO!
Só evoco aos céus, que nossos caminhos estejam sempre abertos, e sejam iluminados e inspirados pelo suspiro da vida de todo dia e pela sutileza poética e dialética dos relacionamentos humanos, essenciais.
Um grande beijo em cada um de vocês, com amor e gratidão infinita, Juliana.
Juliana Caldas
Queridos,
foi muito linda, poética e emocionante nossa apresentação de hoje!
Gostaria de agradecer a todos pelo comprometimento, confiança, carinho e inspiração em todo esse experimento....
Ver ali, na cena final, a voz de cada um de nós impressa na luz, no som, no cenário, no texto, nos movimentos e ritmos foi incrível e inesquecível.
Acho que a vida é feita de retalhos, de passagens, de acasos e também de encontros, e esse nosso encontro foi MÁGICO!
Só evoco aos céus, que nossos caminhos estejam sempre abertos, e sejam iluminados e inspirados pelo suspiro da vida de todo dia e pela sutileza poética e dialética dos relacionamentos humanos, essenciais.
Um grande beijo em cada um de vocês, com amor e gratidão infinita, Juliana.
Juliana Caldas
domingo, 9 de maio de 2010
Cereja do Dia
"Estou mergulhada num sonho neste momento, será que não percebe?"
(Duniacha,página 62 - Tradução de Millôr Fernandes/ LPM Pocket)
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Cereja do Dia
"Quem sabe? O que quer dizer morrer? Talvez o homem tenha cem sentidos e ,quando morrem os cinco que nós conhecemos, 95 comecem a viver."
(Trofímov, página 45 -Tradução de Millôr Fernandes LPM Pocket)
Judi Dench "The cherry orchard"
Tem um vídeo bem legal da primeira parte do filme da Judi Dench "The cherry orchard" que é justamente a parte que estamos trabalhando. Tá em inglês, mas dá pra entender porque o texto é praticamente o mesmo da peça. Acho legal como referência.
http://www.youtube.com/watch?v=eeFMWSbincc
Via Thaís Vidal
http://www.youtube.com/watch?v=eeFMWSbincc
Via Thaís Vidal
Atmosfera do Realismo Fantástico (ou Maravilhoso; ou Mágico)
A foto traz uma coisa que eu sinto sobre a atmosfera e o texto traz um questionamento interessante sobre o realismo a realidade e que tipo de realismo nós queremos fazer.
Uma grande característica, dizem os teóricos, é a de, com determinado cuidado estético, o autor envolver na obra fatos reais e imaginários, verdade e sonho, com distorções de tempo e de espaço, fazendo com que a história adquira uma vibração própria, característica. Trabalha-se a exploração dos sentidos, especialmente aqueles que não têm explicação clara (superstição, crenças populares…), além de se incutir certa crítica social, mostrando que ‘há mais coisas do que simplesmente o que se vê’ (lembre-se do contexto das ditaduras americanas, bem como o florescimento do ideal revolucionário no mundo, subseqüente à experiência cubana)…
Grandes nomes do gênero são Gabriel García Márquez (1927-), colombiano, Julio Cortázar (1914-1984) e Jorge Luis Borges (1899-1986), argentinos.
Borges, García Márquez, Cortázar...
Bem… por que vem à tona um post desses? Na verdade, não sei… Li, por esses dias – por causa da faculdade – “The curious case of Benjamin Button”, de F. Scott Fitzgerald (detalhe: não vi o filme, e li o conto em inglês), que encerra um pouco do ‘maravilhoso’ mencionado acima. Ficou-me a sensação de certo incômodo, um desconforto… como havia tido ao ler A hora dos ruminantes, do José J. Veiga, há alguns anos. E Incidente em Antares (lembrou-me ontem o Denis), do Érico Veríssimo…
Qual a explicação? Esse fator sobrenatural, absurdo, tão adverso à realidade ‘lógica’, ‘racional’ e física do homem do novo milênio, poderia de alguma forma ser absorvido como “normal”, ser assimilado por mim, por nós, caso ocorresse?
Se é que não ocorre…
Quão longe estamos do onírico? Ou.. quão perto? Acho que é isso que incomoda. E não sou, de fato, um racionalista, ou um agnóstico, por assim dizer, para ter alguma resistência a essa questão. Só que…
Via Juliana Caldas
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O Branco
Olá pessoal! Eis que falaremos da cor absoluta, que não possui outras variações a não ser aquelas que vão do fosco ao brilhante: o Branco, que significa ausência ou soma das cores.
Assim como o preto, sua contra-cor, o branco pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática. Muitas vezes se coloca no início e, outras vezes no fim, no término da vida diurna. É vibrante e estimulante por ser a união de todas as cores. Produz troca de energia e capta bem a energia solar. Favorece a clareza, é a cor da verdade.
O branco é a cor da candidatura, de quem vai mudar de condição ou a condição de outros.
Na coloração dos pontos cardeais é natural. Não se estranha que a maioria dos povos tenha feito do branco a cor do Este e Oeste, dos dois pontos extremos e misteriosos onde o Sol, astro do pensamento diurno, nasce e morre todos os dias.
Em ambos os casos o branco é o valor-limite, assim como as duas extremidades da linha infinita do horizonte.
É a cor da passagem, no sentido a que nos referimos ao falar dos rituais de passagem: e é justamente a cor privilegiada desses rituais, através dos quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento.
O branco do Oeste e o branco fosco da morte, que absorve o ser e o introduz ao mundo lunar, frio, fêmea. Conduz à ausência, ao vazio, ao desaparecimento da consciência (sempre bem representado no cinema quando em pensamento ou memória - flashes com branco ou imagem embranquecida) e das cores diurnas.
Todo simbolismo da cor branca, e de seus usos rituais, decorre da observação da natureza, a partir da qual todas as culturas edificaram seus sistemas filosóficos e religiosos.
O pintor Kandinsk, para quem o problema das cores ultrapassavam e muito o problema da estética, exprimiu-se sobre esse tema:
O branco, que muitas vezes se considera como uma não-cor... é como o símbolo de um mundo onde todas as cores, em sua qualidade de propriedades de substâncias materiais, se tenham desvanecido... O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto... Esse silêncio não está morto, pois transborda de possibilidades vivas. É um nada, pleno de alegria juvenil, ou melhor, um nada anterior a todo nascimento, anterior a todo começo. A terra, branca e fria, talvez tenha soado assim nos tempos da era glaciária. Seria impossível descrever melhor, sem dizer-lhe o nome, a alvorada.
Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, pois todo nascimento é um renascimento. Por isso, o branco é primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda ocorre em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo, na Europa e em especial, na corte dos reis da França.
Sob seu aspecto nefasto, o branco se contrapõe ao vermelho: é a cor do vampiro a buscar, precisamente, o sangue - condição do mundo diurno - que se retirou. É a cor da mortalha, de todos os espectros, de todas as aparições. O primeiro homem branco a aparecer entre os bandos do sul dos Camarões teria sido chamado de o fantasma-albino.
O branco é a cor dos primeiros passos da alma, antes do alçar vôo dos guerreiros sacrificados. Por essa mesma razão, todos os deuses do Panteão Asteca, cujo mito celebra um sacrifício seguido de renascimento, usavam ornamentos brancos.
Vestiam-se os condenados com uma camisa branca, significativa de submissão e de disponibilidade, esta é uma prática ainda encontrada nos dias de hoje.
Igual significado tem também a vestimenta branca dos comungantes e a da noiva ao dirigir-se ao encontro de seu parceiro.
Costumava-se chamar, erradamente, essa roupa de vestido de noiva ou de casamento. É o vestido daquela que se dirige para o casamento.
Uma vez realizado esse casamento, o branco cederá lugar ao vermelho, assim como a manifestação do despertar do dia, sobre o pano de fundo da alvorada fosca e neutra como um lençol, será constituída pela aparição de Vênus, a vermelha. Mais tarde seria a menção à núpcias do dia.
É a cor da pureza, é passiva e limpa, desprovida de qualquer tipo de influência sendo assim extremamente neutra, mostrando apenas que nada foi realizado ainda. É o sentido da origem da brancura virginal e a razão para que no ritual cristão, as crianças sejam enterradas debaixo de um sudário branco ornado de flores brancas.
A valorização positiva que se dá ao branco pode estar ligada ao fenômeno iniciático. É o atributo que se dá a quem se renasce, ao recomeço ou a vitória. Isso pode explicar o fato de se iniciar cada ano com vestimentas brancas.
Outro exemplo dessa valorização positiva é a toga viril, símbolo de afirmação, de responsabilidade assumida, de poderes reconhecidos, de renascimento realizado, de consagração. Nos primeiros tempos de cristianismo, o batismo, que é ritual iniciático, chamava-se a Iluminação e era após ter pronunciado seus votos que o novo cristão, nascido para a verdadeira vida, veste uma resplandecente toga branca.
O branco é cor essencial da sabedoria, vinda das origens do homem; o vermelho é a cor do ser, mesclado às obscuridades do mundo e prisioneiro de seus entraves; tal é o homem sobre a terra, arcanjo purpurado.
No budismo Japonês, a auréola branca e o lótus branco estão associados ao gesto de punho do conhecimento do grande iluminador Buda, em contraposição ao vermelho e ao gesto de concentração.
O branco, cor iniciadora, passa a cor da revelação da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que o ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), cujo vestígio permanecerá ao redor da cabeça de todos aqueles que tenham conhecido Deus, sob a forma de uma auréola de luz que é exatamente a soma das cores.
Os dentes brancos são símbolos de inteligência e sabedoria, pode se relacionar sempre a riqueza de conhecimento.
Isso pode explicar a grande associação dessas duas cores na bandeira do Vaticano, através da qual acaba a se afirmar na terra o reino do Deus cristão.
O branco traz leveza, o espaço, a liberdade, o vazio, a frieza, a verdade, a ausência, a limpeza, o infinito, a luz... a sabedoria, a inteligência, a divindade, o bem, o recomeço...
Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
http://imasters.uol.com.br/artigo/3471/teoria/o_branco/
Autor: Wellington Carrion
Via Juliana Caldas
Assim como o preto, sua contra-cor, o branco pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática. Muitas vezes se coloca no início e, outras vezes no fim, no término da vida diurna. É vibrante e estimulante por ser a união de todas as cores. Produz troca de energia e capta bem a energia solar. Favorece a clareza, é a cor da verdade.
O branco é a cor da candidatura, de quem vai mudar de condição ou a condição de outros.
Na coloração dos pontos cardeais é natural. Não se estranha que a maioria dos povos tenha feito do branco a cor do Este e Oeste, dos dois pontos extremos e misteriosos onde o Sol, astro do pensamento diurno, nasce e morre todos os dias.
Em ambos os casos o branco é o valor-limite, assim como as duas extremidades da linha infinita do horizonte.
É a cor da passagem, no sentido a que nos referimos ao falar dos rituais de passagem: e é justamente a cor privilegiada desses rituais, através dos quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento.
O branco do Oeste e o branco fosco da morte, que absorve o ser e o introduz ao mundo lunar, frio, fêmea. Conduz à ausência, ao vazio, ao desaparecimento da consciência (sempre bem representado no cinema quando em pensamento ou memória - flashes com branco ou imagem embranquecida) e das cores diurnas.
Todo simbolismo da cor branca, e de seus usos rituais, decorre da observação da natureza, a partir da qual todas as culturas edificaram seus sistemas filosóficos e religiosos.
O pintor Kandinsk, para quem o problema das cores ultrapassavam e muito o problema da estética, exprimiu-se sobre esse tema:
O branco, que muitas vezes se considera como uma não-cor... é como o símbolo de um mundo onde todas as cores, em sua qualidade de propriedades de substâncias materiais, se tenham desvanecido... O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto... Esse silêncio não está morto, pois transborda de possibilidades vivas. É um nada, pleno de alegria juvenil, ou melhor, um nada anterior a todo nascimento, anterior a todo começo. A terra, branca e fria, talvez tenha soado assim nos tempos da era glaciária. Seria impossível descrever melhor, sem dizer-lhe o nome, a alvorada.
Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, pois todo nascimento é um renascimento. Por isso, o branco é primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda ocorre em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo, na Europa e em especial, na corte dos reis da França.
Sob seu aspecto nefasto, o branco se contrapõe ao vermelho: é a cor do vampiro a buscar, precisamente, o sangue - condição do mundo diurno - que se retirou. É a cor da mortalha, de todos os espectros, de todas as aparições. O primeiro homem branco a aparecer entre os bandos do sul dos Camarões teria sido chamado de o fantasma-albino.
O branco é a cor dos primeiros passos da alma, antes do alçar vôo dos guerreiros sacrificados. Por essa mesma razão, todos os deuses do Panteão Asteca, cujo mito celebra um sacrifício seguido de renascimento, usavam ornamentos brancos.
Vestiam-se os condenados com uma camisa branca, significativa de submissão e de disponibilidade, esta é uma prática ainda encontrada nos dias de hoje.
Igual significado tem também a vestimenta branca dos comungantes e a da noiva ao dirigir-se ao encontro de seu parceiro.
Costumava-se chamar, erradamente, essa roupa de vestido de noiva ou de casamento. É o vestido daquela que se dirige para o casamento.
Uma vez realizado esse casamento, o branco cederá lugar ao vermelho, assim como a manifestação do despertar do dia, sobre o pano de fundo da alvorada fosca e neutra como um lençol, será constituída pela aparição de Vênus, a vermelha. Mais tarde seria a menção à núpcias do dia.
É a cor da pureza, é passiva e limpa, desprovida de qualquer tipo de influência sendo assim extremamente neutra, mostrando apenas que nada foi realizado ainda. É o sentido da origem da brancura virginal e a razão para que no ritual cristão, as crianças sejam enterradas debaixo de um sudário branco ornado de flores brancas.
A valorização positiva que se dá ao branco pode estar ligada ao fenômeno iniciático. É o atributo que se dá a quem se renasce, ao recomeço ou a vitória. Isso pode explicar o fato de se iniciar cada ano com vestimentas brancas.
Outro exemplo dessa valorização positiva é a toga viril, símbolo de afirmação, de responsabilidade assumida, de poderes reconhecidos, de renascimento realizado, de consagração. Nos primeiros tempos de cristianismo, o batismo, que é ritual iniciático, chamava-se a Iluminação e era após ter pronunciado seus votos que o novo cristão, nascido para a verdadeira vida, veste uma resplandecente toga branca.
O branco é cor essencial da sabedoria, vinda das origens do homem; o vermelho é a cor do ser, mesclado às obscuridades do mundo e prisioneiro de seus entraves; tal é o homem sobre a terra, arcanjo purpurado.
No budismo Japonês, a auréola branca e o lótus branco estão associados ao gesto de punho do conhecimento do grande iluminador Buda, em contraposição ao vermelho e ao gesto de concentração.
O branco, cor iniciadora, passa a cor da revelação da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que o ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), cujo vestígio permanecerá ao redor da cabeça de todos aqueles que tenham conhecido Deus, sob a forma de uma auréola de luz que é exatamente a soma das cores.
Os dentes brancos são símbolos de inteligência e sabedoria, pode se relacionar sempre a riqueza de conhecimento.
Isso pode explicar a grande associação dessas duas cores na bandeira do Vaticano, através da qual acaba a se afirmar na terra o reino do Deus cristão.
O branco traz leveza, o espaço, a liberdade, o vazio, a frieza, a verdade, a ausência, a limpeza, o infinito, a luz... a sabedoria, a inteligência, a divindade, o bem, o recomeço...
Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
http://imasters.uol.com.br/artigo/3471/teoria/o_branco/
Autor: Wellington Carrion
Via Juliana Caldas
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Notícias nossas no site da escola...
GRUPO 1 DO EXPERIMENTO: O ERRO, O ACERTO E O CEREJAl
O Grupo 1 da etapa Experimento dos Cursos Regulares da SP Escola de Teatro ficou encarregado de montar uma cena de 15 minutos do espetáculo “O Cerejal”, de Anton Tchekhov. Composto por aprendizes de Direção, Dramaturgia, Cenografia e Figurino, Técnicas de Palco, Sonoplastia, Iluminação e Atuação, a equipe é uma das quatro que trabalham com cenas dramáticas. Os outros quatro grupos são responsáveis por peças cômicas.
A discussão seguiu calorosa durante toda a manhã de quarta-feira, 5 de Maio. Antonia Matos, Sandra Storino e Juliana Caldas, aprendizes de Direção, trouxeram as investigações que realizaram em conversas com os colegas das outras turmas e pesquisas pessoais.
Todos os alunos trabalham em conjunto com a orientação de um observador, formado por um profissional da Escola. Na sonoplastia, pensam em instrumentos tribais, como cabaça e djembê para fortalecer a atmosfera da história. A cenografia será composta de portas, janelas, além de terra e água. O figurino será basicamente branco, destacando a ideia do estado de lembrança e memória em que as personagens vivem.
A dramaturgia só será fechada a partir da disposição das falas dos atores dentro da sala de ensaio. “A montagem ainda será realista, mas não a do século XIX e, sim, uma visão nossa em cima dessa linguagem”, disse Matos.
Cada grupo recebeu R$ 300 reais da Instituição para fazer a produção das cenas. Os aprendizes de Cenografia e Figurino foram bater perna no Brás em busca de tecidos e outros materiais para construir os elementos necessários.
Toda criação é livre. A observadora, que no Grupo 1 é Cris Zuan Esteves, formadora do curso de Atuação, só interrompe o processo em momentos específicos para pontuar ações e esclarecer dúvidas do trabalho.
Todos estavam entusiasmados com a liberdade de criação, com o desenvolvimento do trabalho e com o aprendizado que vai se estruturando na prática. “Agora, vamos voltar para as nossas pesquisas. O que surgir, precisamos testar em cena. Nos interessa o erro e o acerto, mas precisamos testar”, conclui a aprendizes de Direção Antonia Matos.
A apresentação final do processo é entre os dias 21 e 22 de Maio, no Teatro Aliança Francesa, Centro de São Paulo.
http://www.spescoladeteatro.org.br/noticias/147.php
O Grupo 1 da etapa Experimento dos Cursos Regulares da SP Escola de Teatro ficou encarregado de montar uma cena de 15 minutos do espetáculo “O Cerejal”, de Anton Tchekhov. Composto por aprendizes de Direção, Dramaturgia, Cenografia e Figurino, Técnicas de Palco, Sonoplastia, Iluminação e Atuação, a equipe é uma das quatro que trabalham com cenas dramáticas. Os outros quatro grupos são responsáveis por peças cômicas.
A discussão seguiu calorosa durante toda a manhã de quarta-feira, 5 de Maio. Antonia Matos, Sandra Storino e Juliana Caldas, aprendizes de Direção, trouxeram as investigações que realizaram em conversas com os colegas das outras turmas e pesquisas pessoais.
Todos os alunos trabalham em conjunto com a orientação de um observador, formado por um profissional da Escola. Na sonoplastia, pensam em instrumentos tribais, como cabaça e djembê para fortalecer a atmosfera da história. A cenografia será composta de portas, janelas, além de terra e água. O figurino será basicamente branco, destacando a ideia do estado de lembrança e memória em que as personagens vivem.
A dramaturgia só será fechada a partir da disposição das falas dos atores dentro da sala de ensaio. “A montagem ainda será realista, mas não a do século XIX e, sim, uma visão nossa em cima dessa linguagem”, disse Matos.
Cada grupo recebeu R$ 300 reais da Instituição para fazer a produção das cenas. Os aprendizes de Cenografia e Figurino foram bater perna no Brás em busca de tecidos e outros materiais para construir os elementos necessários.
Toda criação é livre. A observadora, que no Grupo 1 é Cris Zuan Esteves, formadora do curso de Atuação, só interrompe o processo em momentos específicos para pontuar ações e esclarecer dúvidas do trabalho.
Todos estavam entusiasmados com a liberdade de criação, com o desenvolvimento do trabalho e com o aprendizado que vai se estruturando na prática. “Agora, vamos voltar para as nossas pesquisas. O que surgir, precisamos testar em cena. Nos interessa o erro e o acerto, mas precisamos testar”, conclui a aprendizes de Direção Antonia Matos.
A apresentação final do processo é entre os dias 21 e 22 de Maio, no Teatro Aliança Francesa, Centro de São Paulo.
(Texto e Fotos do Lucas)
terça-feira, 4 de maio de 2010
Cereja (anti-existencialista?) do Dia
"Você não faz nada! Se deixa levar pra lá e pra cá, pelo destino."
(Liuba a Trofímov,página 57 - tradução Millôr Fernandes,LPM Pocket)
domingo, 2 de maio de 2010
Cereja do dia
"Mamãe não se emenda. Se deixarmos,ela dá tudo o que tem."
(Vária,página 31- Tradução Millôr Fernandes LPM Pocket)
(Vária,página 31- Tradução Millôr Fernandes LPM Pocket)
Os Orixás
Para o Iorubá, os Orixás são ancestrais divinos, homens e mulheres, que por terem feito atos excepcionais enquanto vivos, destacaram-se na comunidade e passaram a ser cultuados por seus descendentes e até mesmo por outros clãs. Os Orixás passam a deter os ensinamentos da comunidade. Estes feitos excepcionais ou heróicos são entendidos como a capacidade de controle e uso das forças da natureza ou Axé. Axé, em Iorubá, é compreendido como energia vital, presente em todos os elementos da natureza, sem Axé não haveria existência; é o princípio que torna possível a vida. O Axé pode ser transmitido a outros objetos ou seres humanos.
Entendemos os Orixás como personagens arquetípicos que reúnem em seu sistema mitológico ensinamentos valiosos sobre as mais variadas áreas de experiência humana e são as expressões de grandes forças cósmicas, estando associados ao mito da criação e seu Axé. Divindades, os Orixás são o meio de comunicação de um deus, superior e distante, com os homens. Estabelecem, desta forma, o contato entre o mundo sagrado e o mundo dos homens, representando uma força universal.
A determinação do Orixá protetor é de grande importância, uma vez que se acredita que cada ser humano, desde o momento em que foi concebido, já tem o seu Orixá protetor de cabeça.
O corpo humano, para o Iorubá , é um microcosmo e nele estão contidos todos os elementos e forças da natureza que, distribuídos harmoniosamente pelo corpo, explicam a sua mitologia. Segundo Augras,
“…os pés apoiam-se no concreto, no barro de onde saiu e para onde voltará, na terra que os antepassados pisaram e à qual retornaram. O pé direito corresponde à herança dos antepassados masculinos, e o pé esquerdo, à herança feminina. As mãos direita e esquerda, atuam sobre o mundo e transformam as coisas. A cabeça, que reproduz as quatro dimensões do espaço, contém, na interseção dos pontos cardeais, o centro da individualidade, ori-inu, manifestação do duplo sagrado, que provém de substância divina, da qual os próprios deuses são tributários” (1983,62).
Na tentativa de estabelecer contato com o divino, o reconhecimento dos deuses acontece primeiramente no corpo dos seus fiéis, com a representação feita através de uma atividade corporal, que catalisa os sentimentos e sensações dos arquétipos e as forças da natureza, a dança. Por essa importância dada ao corpo, a dança no ritual representa um determinante elemento do processo, pois é por intermédio desta que acontece a corporificação da entidade; o corpo, ao dançar, intermedia o mundo sagrado com o profano.
Na utilização de movimento, cantos e ritmos e na perspectiva de harmonizar-se com eles, teatralizam seus deuses encarnados e os recontam, através de um desenvolvimento muito bem definido e rígido, que inclui ritos de entrada, transe e ritos de saída.
AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS
A água é muito utilizada nas casa de Candomblé. Em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante, desde o rito do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as ajé, até o ritual das águas de Oxalá, quando ela representa a limpeza lustral do egbe.
Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Diría ainda que as águas de Oxalá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado.
É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exu e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.
Entre os eboras ou orixás femininos, destacamos aqui Nàna que está associada à terra, à lama e também às águas. Nàna ou Nàna Burúkú ou Nàna Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons.
Outro orixá feminino associado à água é o orixá Òsun. Oxum tem toda a sua história ligada às águas pois, na Nigéria, Òsun é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do orixá.
Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oya".
Não diferente dos demais orixás femininos, Yemanjá também está muito ligada às águas. É o orixá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemonja e o rio Ogun – não confundir com o orixá Ogun, Deus do ferro. Daí Yemonja estar associada à expressão Odò Iyá, ou seja, "Mãe dos Rios".
Resumindo, a água é um elemento natural aos orixás femininos. Não só dentro do culto de Candomblé, mas como em toda a vida, ela é de suma importância pois, como é dito, a água é o princípio da vida.
EWÁ
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.
IANSÃ
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história conta que Iansã percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru (rabo de boi ou de búfalo)
IEMANJÁ
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É Iemanjá que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar, viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
Mitologia
Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.
NANÃ
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBÁ
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
Mitologia
Uma vez banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária e tinha em mente tomá-la para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.
OXUM
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
ÒSUN (OXUM) - ORIGEM DO NOME DE OSOGBO
Òsun é o orixá considerado mãe da água doce e senhora do ouro.
O arquétipo das filhas de Òsun é o das mulheres graciosas e elegantes gostando do conforto, bom gosto e tendo um toque aristocrático em tudo que fazem.
Òsun também chamada de Iyalóòide em Osogbò, na Nigéria, onde iyá= "mãe" e lóòde="rainha de todos os rios".
Òsun tem fundamentalmente seus axés nas pedras do Rio Osun, nas jóias de cobre e num pente de tartaruga. O amor de Òsun pelo cobre, o metal mais precioso do país yorubá nos tempos antigos é mencionado nas saudações que assim lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Òsun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos.”
No Brasil, Òsun foi ligada ao ouro, isso devido a esse metal ser de grande importância para a confecção de jóias, uma das paixões de Òsun.
A cidade de Osogbò recebeu este nome depois que Laro, após muitas atribuições, veio instalar-se às margens do rio Òsun. Laro achou aquele local ideal para estabelecer uma cidade e ali fixar seu povo. Dias depois, uma das suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. No dia seguinte, ela retornou muito bem vestida e enfeitada com muitas jóias, dizendo ter sido muito bem tratada pela divindade do rio. Agradecendo então o regresso de sua filha, Laro dedicou à Òsun muitas oferendas e numerosos peixes. Mensageiros da divindade vieram comer em sinal de aceitação às oferendas que Laro havia depositado nas águas. Um grande peixe cuspiu-lhe água e ele a recolheu numa cabaça e bebeu: estava selada a aliança entre Òsun & Laro. Este peixe saltou sobre as mãos de Laro e a partir desse momento recebeu o título de Ataoejá ou Atáoja, que quer dizer “aquele que recebe o peixe (ejá)”e declarou Òsun Gbó ou “Òsun está em estado de maturidade”.
Essa foi a origem do nome da cidade de Òsogbo, onde até os dias de hoje encontram-se os descendentes de Laro que honram o pacto feito no passado.
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê
Entendemos os Orixás como personagens arquetípicos que reúnem em seu sistema mitológico ensinamentos valiosos sobre as mais variadas áreas de experiência humana e são as expressões de grandes forças cósmicas, estando associados ao mito da criação e seu Axé. Divindades, os Orixás são o meio de comunicação de um deus, superior e distante, com os homens. Estabelecem, desta forma, o contato entre o mundo sagrado e o mundo dos homens, representando uma força universal.
A determinação do Orixá protetor é de grande importância, uma vez que se acredita que cada ser humano, desde o momento em que foi concebido, já tem o seu Orixá protetor de cabeça.
O corpo humano, para o Iorubá , é um microcosmo e nele estão contidos todos os elementos e forças da natureza que, distribuídos harmoniosamente pelo corpo, explicam a sua mitologia. Segundo Augras,
“…os pés apoiam-se no concreto, no barro de onde saiu e para onde voltará, na terra que os antepassados pisaram e à qual retornaram. O pé direito corresponde à herança dos antepassados masculinos, e o pé esquerdo, à herança feminina. As mãos direita e esquerda, atuam sobre o mundo e transformam as coisas. A cabeça, que reproduz as quatro dimensões do espaço, contém, na interseção dos pontos cardeais, o centro da individualidade, ori-inu, manifestação do duplo sagrado, que provém de substância divina, da qual os próprios deuses são tributários” (1983,62).
Na tentativa de estabelecer contato com o divino, o reconhecimento dos deuses acontece primeiramente no corpo dos seus fiéis, com a representação feita através de uma atividade corporal, que catalisa os sentimentos e sensações dos arquétipos e as forças da natureza, a dança. Por essa importância dada ao corpo, a dança no ritual representa um determinante elemento do processo, pois é por intermédio desta que acontece a corporificação da entidade; o corpo, ao dançar, intermedia o mundo sagrado com o profano.
Na utilização de movimento, cantos e ritmos e na perspectiva de harmonizar-se com eles, teatralizam seus deuses encarnados e os recontam, através de um desenvolvimento muito bem definido e rígido, que inclui ritos de entrada, transe e ritos de saída.
AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS
A água é muito utilizada nas casa de Candomblé. Em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante, desde o rito do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as ajé, até o ritual das águas de Oxalá, quando ela representa a limpeza lustral do egbe.
Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Diría ainda que as águas de Oxalá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado.
É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exu e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.
Entre os eboras ou orixás femininos, destacamos aqui Nàna que está associada à terra, à lama e também às águas. Nàna ou Nàna Burúkú ou Nàna Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons.
Outro orixá feminino associado à água é o orixá Òsun. Oxum tem toda a sua história ligada às águas pois, na Nigéria, Òsun é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do orixá.
Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oya".
Não diferente dos demais orixás femininos, Yemanjá também está muito ligada às águas. É o orixá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemonja e o rio Ogun – não confundir com o orixá Ogun, Deus do ferro. Daí Yemonja estar associada à expressão Odò Iyá, ou seja, "Mãe dos Rios".
Resumindo, a água é um elemento natural aos orixás femininos. Não só dentro do culto de Candomblé, mas como em toda a vida, ela é de suma importância pois, como é dito, a água é o princípio da vida.
EWÁ
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.
IANSÃ
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história conta que Iansã percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru (rabo de boi ou de búfalo)
IEMANJÁ
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É Iemanjá que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar, viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
Mitologia
Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.
NANÃ
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBÁ
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
Mitologia
Uma vez banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária e tinha em mente tomá-la para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.
OXUM
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
ÒSUN (OXUM) - ORIGEM DO NOME DE OSOGBO
Òsun é o orixá considerado mãe da água doce e senhora do ouro.
O arquétipo das filhas de Òsun é o das mulheres graciosas e elegantes gostando do conforto, bom gosto e tendo um toque aristocrático em tudo que fazem.
Òsun também chamada de Iyalóòide em Osogbò, na Nigéria, onde iyá= "mãe" e lóòde="rainha de todos os rios".
Òsun tem fundamentalmente seus axés nas pedras do Rio Osun, nas jóias de cobre e num pente de tartaruga. O amor de Òsun pelo cobre, o metal mais precioso do país yorubá nos tempos antigos é mencionado nas saudações que assim lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Òsun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos.”
No Brasil, Òsun foi ligada ao ouro, isso devido a esse metal ser de grande importância para a confecção de jóias, uma das paixões de Òsun.
A cidade de Osogbò recebeu este nome depois que Laro, após muitas atribuições, veio instalar-se às margens do rio Òsun. Laro achou aquele local ideal para estabelecer uma cidade e ali fixar seu povo. Dias depois, uma das suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. No dia seguinte, ela retornou muito bem vestida e enfeitada com muitas jóias, dizendo ter sido muito bem tratada pela divindade do rio. Agradecendo então o regresso de sua filha, Laro dedicou à Òsun muitas oferendas e numerosos peixes. Mensageiros da divindade vieram comer em sinal de aceitação às oferendas que Laro havia depositado nas águas. Um grande peixe cuspiu-lhe água e ele a recolheu numa cabaça e bebeu: estava selada a aliança entre Òsun & Laro. Este peixe saltou sobre as mãos de Laro e a partir desse momento recebeu o título de Ataoejá ou Atáoja, que quer dizer “aquele que recebe o peixe (ejá)”e declarou Òsun Gbó ou “Òsun está em estado de maturidade”.
Essa foi a origem do nome da cidade de Òsogbo, onde até os dias de hoje encontram-se os descendentes de Laro que honram o pacto feito no passado.
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê
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referências
Nanã
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
Nanã Buruku ou Buku é considerada a mais antiga das divindades. Muito cultuada na África em regiões como: Daça Zumê, Abomey, Dumê, Cheti, Bodé, Lubá, Banté, Djabalá, Pesi e muitas outras regiões.
Para os fons e ewes, a palavra Nanã ou Nàná é empregada para se chamar de mãe as mulheres idosas e respeitáveis, ou seja, a palavra Nanã significa: "Respeitável Senhora".
Nanã está associada à terra, à água e à lama. Os pântanos e as águas lodosas são o seu domínio.
Como relatei no começo, é a mais antiga das divindades, pois representa a memória ancestral. Mãe de Loko ou Irokô, Omolu e Oxumare ou Becém na dinastia Fon, Nanã está ligada ao mistério da vida e da morte. É a senhora da sabedoria, mais velha que o ferro. Daí, não usar lâminas em seu culto.
Nanan proprietária de um cajado. Nanan salpicada de vermelho, suas roupas parecem banhadas em sangue, orisa que obriga o fon a falar nagô (ketu). Água parada que mata derrepente, ela mata uma cabra sem usar faca.
É considerada "orisa mais antigo do mundo". Quando orunmilá chegou aqui para frutificar a terra, ela já estava. Nanan desconhece o ferro por trata-se de um orixá da pré-história, anterior a idade do ferro. O termo nanan significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra.
NANÃ, A DEUSA DA VIDA E DA MORTE
Nanã é um orixá feminino de origem daomeana, adotada da África que representa o dogbê (vida) e a doku (morte). Ela acolhe em seu ventre os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (renascimento). Essa dualidade é representada por Nanã que personifica os pântanos. É neles que a mistura da água (vida) e da terra (morte), formando a lama, existe um portal entre as dimensões dos vivos e dos mortos. O pântano ou a lama, foi o local escolhido por Nanã para ser sua residência. Entretanto, para haver barro ou lama, tem que haver chuva, Nanã passou também a reger a chuva.
Nanã é conhecida por vários nomes, dependendo da região e do dialeto, mas em Dahomey (hoje Benin) na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, ela é conhecida como Nanã Buruku . Ela está fortemente ligada ao elemento terra e é chamada de "Senhora dos Pântanos", assinalando-a como uma Grande Mãe que é responsável pelo sopro da vida e conseqüentemente a morte.
Nanã sempre conduz os seres humanos com muita seriedade, justiça e determinação. Seus cânticos são súplicas para que a morte seja mantida afastada e que a vida seja preservada.
Sendo a personificação da "lama" ou da "chuva", Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura (período neolítico).
MITOLOGIA
Nanã de origem daomeana, foi incorporada há séculos pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida.
Nesse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos,. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.
Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o conceito de maternidade como função principal.
É neste contexto, que Nanã apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omulu (ou Obaluaê, orixá da varíola) e Oxumarê (orixá do arco-íris).
E teria tido uma filha, Ewá, nascida de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o mito.
NANÃ NO BRASIL
Aqui no Brasil, os escravos africanos introduziram com muito êxito suas divindades, como a Deusa Nanã, Oya, entre outras, nas religiões como o candomblé, a umbanda e o batuque. Essas religiões incluem a possessão por parte dos deuses. Quando Nanã se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba!
SEUS INICIADOS
Seus sacerdotes e sacerdotisas são experientes à prática da medicina através das ervas, pois Nanã é detentora do conhecimento do uso terapêutico delas (ervas). Mas a Deusa explica ainda, que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças podem ter origem espiritual e portanto, requer tratamento nesse sentido. Mas, qualquer que seja a origem da doença, se a pessoa enferma recorrer à Nanã, obterá o remédio curador.
Muitas mulheres recorrem à essa Deusa quando não conseguem engravidar e Nanã ensina prontamente a mistura de ervas que deve tomar, assim como os "ebós" e oferendas que devem ser feitos. Caso sejam atendidas, é costume na África, em homenagem à Deusa, acrescentar ao nome da criança a palavra "nanã". Todos seus sacerdotes e sacerdotisas também usam na frente do nome esse prefixo.
Na África as mulheres menstruadas são impedidas de entrar em seu templo ou fazer comida de santo. Nanã fala que a bogami (menstruação) é um sangue impuro e diz para as mulheres não cozinharem para seus maridos quando estiverem menstruadas. Aqui vemos claramente traços de um período muito arcaico (neolítico) em que o sangue da menstruação ainda era considerado impuro.
NANÃ E HÉCATE
Nanã é também uma Deusa da Lua Escura que muito se assemelha a Hécate nas funções de regente dos processos misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da vida e da entrada nos caminhos árduos da transformação. A nível psíquico, essas passagens não podem ser eliminadas do curso normal da vida.
Nanã, assim como Hécate é a Deusa Terra primordial que dá nascimento às sementes e acolhe em seu seio os mortos. Tanto pode dar vida como a morte, seqüências da mesma realidade. É ainda, Dona da sabedoria e da justiça, que vem da natureza e a sua lei é implacável.
Nanã o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro, que é feito com palitos de dendezeiro e nasceu junto com ela, na sua placenta. O sincretismo de Nanã com Sant'Ana, avó maternal de Jesus, e padroeira dos professores, reforça a impressão de que ela é muito antiga e que sua chegada ao Brasil foi anterior à dos Yorubas.
A Deusa tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nana.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nana é o "grão", pois ela possui o domínio da agricultura e todo "grão" tem que morrer para germinar.
MITOLOGIA
LENDA 1 (Mitologia Fon)
Na mitologia Fon, Nanã Buruku (ou Buluku) que deu nascimento ao gêmeos: Lisa e Mawu. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Mawu-Lisa criaram todo o Universo e os Voduns juntos. Eles eclipsaram várias vezes e tiveram no total sete casais de gêmeos (sempre um masculino e o outro feminino).
Mawu e Lisa chamaram seu filhos e os enviaram à Terra como os primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma atribuição. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio ao mundo e aos seres viventes.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão. Já Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam cumpridas.
Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado na rica, complexa e elevada Mitologia Fon. Sua entrada no em nosso país ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
NANÃ BURUKU
Nanã Buruku está associada com as Onze Energias cósmicas e é íntima delas compreendidas ma religião da Umbanda. É denominada como a "Avó de todos os Orixás". Nada acontece sem que ela tenha conhecimento, sempre presente, desde a criação incessante do universo até o desenrolar contínuo da atividade existencial de todos os seres e elementos que compõem o organismo vivo do nosso planeta. Soma-se com outras Energias para, juntas, comporem a forma mais sutil e perspicaz orixá: Oxumaré que personifica a curva do arco-íris.
Na Umbanda, Nanã é configurada pelos fiéis e "filhos de cabeça" como sendo fisicamente uma senhora sempre curvada pelo peso das eras e cujo rosto nunca é visto, porque está sempre encoberto. Sua imagem está projetada na figura de um devoto que canta e dança em seu louvor, mimeticamente, como se embalasse uma criança. Outras vezes com as mãos juntas como se socasse um pilão. Sua postura em muito se parece com o orixá Omolu com o qual parte e reparte suas próprias vibrações preferenciais e idiossincrásicas.
É conhecida também por: Bukuú (Togo), Naná Buluku (Benin, ex-Daomé), Borokô (candomblés de caboclo), Tobossi (fantiashanti), Kerê-Kerê (Angola e Congo) e mais as variantes Naná, Nanã, Nanã Buruquê, Buruku, Ananburuquê, Anaburuku, Naná Buku, Naná Brukung e, na língua yoruba como Nanã Buruiku.
LENDA 2
Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o Homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a terra, voltar a natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Essa lenda descreve a natureza de Nanã como a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
LENDA 3
Essa terceira lenda conta que Nanã foi conquistar o reino de Oxalá e acabou sendo conquistada por ele. Entretanto, o deus amava muito sua esposa, Iemanjá, e jamais se envolveria com Nanã. Essa então, o embriagou e o seduziu, engravidando. Desse ato adúltero nasceu Obaluiaê, uma criança muito feia e deformada que foi abandonada no mar. Iemanjá o encontrou meio morto e todo mordido pelos peixes e o cuidou até que ficasse curado. Para esconder as cicatrizes que permaneceram em seu corpo, ele foi coberto de palha. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.
Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas.
Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.
Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando desgraças aconteçam aos homens.
Essa lenda nos aconselha a nunca negar auxílio, qualquer que seja, às pessoas que nos procuram. Além disso, nos diz para termos esperança, pois "não há mal que sempre dure.." e sempre há um recomeço, mesmo após um grande e penoso sofrimento.
LENDA 4
"Nanã era esposa de Oxalá e ocupava o cargo de juíza no Daomé. Só julgava os homens, sendo muito respeitada pelas mulheres que eram consideradas Deusas.
Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma reclamação sobre seu marido, ela amarrava a pessoa numa arvore e pediu aos eguns para assustá-la.
Certa noite, Iansã reclamou de Ogum e ele foi amarrado no jardim. A noite, conseguiu escapulir e foi falar com ifá. A situação não podia continuar e, assim, ficou acertado que oxalá tiraria os poderes de Nanã. Ele se aproximou e ofereceu a ela suco de igbin, um tipo de caramujo. Ao beber o preparado, Nanã adormeceu. Oxalá então vestiu-se de mulher e, imitando o jeito de Nanã, pediu aos Eguns que fossem embora de seu jardim para sempre.
Quando Nanã acordou e percebeu o que Oxalá tinha feito, obrigou-o a tomar o mesmo preparado de igbin e seduziu o orixá. Oxalá saiu correndo e contou para Ogum o que havia acontecido. Indignado, este cortou relações com Nanã. E é por isso que nas oferendas a Nanã não é usado nenhum objeto de metal.
Uma outra lenda registra que, numa reunião, os orixás aclamaram ogum como o mais importante deles e que Nanã, não se conformando em ser derrotada por ele, assumiu que não mais usaria os utensílios de metal criados pelo orixá guerreiro (escudos e lanças de guerra, facas e setas para caça e pesca). Por isso, que ela não aceita oferendas em que apresentem objetos de metal."
(Lenda retirada do portal HYPERLINK "http://www.orixas.com.br" http://www.orixas.com.br )
Essa lenda, vem de encontro à tese de alguns historiadores que afirmam que a Deusa Nanã é anterior a Idade do Ferro.
DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM (Segundo Pierre Verger)
"Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.
Um dia eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu:
-"Ah! É um importante mensageiro!"
Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Eles dizem:
-"É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"
Nanã Buruku contesta, então:
-"Não digam isso. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"
Os demais orixás respondem:
-"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".
Nanã concluiu que não renderá homenagem a Ogum.
-"Porque não haverá um outro Imalé mais importante?"
Ogum diz:
-"Ah!Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."
Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos discutem por muito tempo.
Ogum perguntando:
-"Você pretende que seja dispensável?"
Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.
Ogum diz então:
"Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas".
Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.
Ogum questiona:
-"Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos".
Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã".
(Lenda retirada do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)
DEUSA DA VIDA, DA MORTE E DO RENASCIMENTO
Nanã é uma Deusa que se inseri no período Neolítico ou até antes dele, onde não existe distinção alguma entre a Deusa que atrai a vida e a que atrai a morte, mas ambas se experimentam como uma unidade, através da Grande Mãe que engloba a totalidade da vida e da morte. A Deusa transforma a experiência da morte em como o renascimento à outra dimensão.
O período Neolítico foi uma fase de descobrimentos e o resultado disso foi uma nova relação com o universo. Foi nesse tempo que a humanidade compreendeu e passou a participar dos misteriosos processos de crescimento. Com a compreensão que certas sementes podiam ser convertidas em trigo e depois transformados em pão, e que certos animais vivendo perto das casas, poderia prover-lhes de leite, carne, surgiu um novo espírito que cooperação consciente entre os seres humanos e seu mundo. A vida do cosmos se converteu em uma história que incluía o homem como um de seus personagens.
Os povos deste período não puderam de realizar uma analogia de suas vidas com as das sementes que, plantadas na terra, incubavam e voltavam a emergir como grão verde ou dourado. Os rituais que evocavam o nascimento, que chorava a morte e que celebravam o renascimento da raiz mostra o quanto era vital essa analogia para a imaginação humana, pois situava a regeneração como o núcleo da vida.
A fonte secreta da vida estava agora escondida nas profundezas da terra (útero da Deusa). Os seres humanos agora nascem dela, se alimentam dela e são acolhidos por ela.
As inumeráveis formas de cerâmica neolítica revelam o alcance imaginativo dos povos, que refletiam sobre o mistério do nascimento associando-o ao mais amplo mistério do nascimento de toda a vida mediante o "Corpo" da Deusa. As imagens da Deusa a mostram como o portal ou umbral através da qual penetra vida ou abandona esse mundo.
Toda a Grande Mãe, segundo Carl Jung, personifica o nosso inconsciente, portanto, um aspecto gerador, protetor e positivo, apesar do seu lado devorador e negativo. Todo o tipo de medo, como o medo da morte, do desconhecido, do novo, está ligado ao medo do inconsciente. O inconsciente, como a Grande Mãe, é a fonte primordial da criação, mas se o fascínio dela for forte demais, ela é o poder oculto que, em certas ocasiões, impede o livre desenvolvimento da comunicação normal. Mas, se encararmos essa realidade básica, podemos desistir de sermos tão agradáveis aos imperativos ideais do mundo patriarcal e atingirmos uma base sólida, de onde tudo isso parece irrelevante.
A DIFUSÃO DA DEUSA NEGRA
Dos tempos pré-históricos, em torno de trinta mil anos antes da era cristã, provém a Vênus negra de Lespugue, entalhada numa presa de mamute, agora preservada no Musée de l"Homme, em Paris. Por ser anterior a uma época em que não existia conhecimento algum de agricultura, ela é mais do que terra, ela é a própria Vida.
Em Tindari, na costa do Mediterrâneo no leste da Sicília, uma estátua negra da Nossa Senhora possui a inscrição: "nigra sum sed formoso", ou seja, "Sou negra, porém formosa", do Cântico de Salomão 1,5. A Virgem Negra também é encontrada na França, na Espanha, na Suíça e na Polônia.
Não poderia portanto ser essa Nossa Senhora negra a mais antiga das imagens da Deusa?
Há historiadores que postulam que da figura da Deusa Negra procedem todas as demais.
Apesar de que a humanidade surgiu no noroeste da África, é possível que os temas dominantes que se repetem nos mitos e nos rituais de todo o mundo só se desenvolveram quando os povoadores já haviam trasladado à outras regiões.
Historiadores negros do século XX, como John G. Jackson, afirmam que os povos africanos da costa foram consumados marinheiros e exploradores que levaram à Ásia, Europa, América e Oceania a cultura matriarcal da Deusa. Portanto, as virgens negras presentes na Europa, que são interpretadas como representantes da "lua escura" ou ainda, uma "escura faceta" psicológica da Deusa, não são mais do que vestígios da época em a Deusa era realmente negra.
É inegável a vastíssima contribuição da cultura africana na cultura, na religião e nos costumes aqui do Brasil. Nada mais fácil sentir esse contribuição no que tange as religiões que hoje são afro-brasileiras. Deusas como Iemanjá, Iansã, Oxum, Nanã entre muitas outras também importantes, são muito populares em nosso meio, mas sempre é bom acrescentarmos um pouco mais de conhecimento sobre elas.
Sem nos atermos em questionamentos religiosos, essas Deusas Mães, estão presentes e ativas em nossas vidas, para não nos deixar esquecer que o melhor dos caminhos é o do coração e o da fé. Todas elas simbolizam a força maior, a fagulha divina dentro de nós, a energia que flui nos próprios processos da vida e do viver. Esse conceito da Deusa como processo de vida conduz a outro aspecto da espiritualidade feminina contemporânea, observado entre muitos grupos e indivíduos. Trata-se do sentido da conexão direta com a vida. Muitos são os que pensam que não estamos no topo da natureza, e sim, "somos" a natureza. Esse senso de Unidade, aflora constantemente em conversas e escritos. Isso nos ajuda a compreender que aquilo que poderíamos considerar simplesmente como compaixão ou apoio ou simpatia é o resultado do sentir, intuitivo, dessa ligação direta com a unidade. Essa sensação de Unidade com toda a vida leva muitas mulheres, de forma bastante natural, a uma compreensão direta do motivo pelo qual o sexismo, o racismo e outros "ismos" que criam uma sensação de separação, de "nós e os outros", realmente não fazem sentido.
OUTROS DADOS
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Sincretismo: Nossa Senhora Santana
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Mugunzá; Ebô
Símbolo: Ìbírí (feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna).
Saudação: Salubá Nanã! ! ("Dona do pote da Terra!")
Comando da falange de Nanã: Cabocla Janaína
Representação no ponto riscado: uma cruz
Amalá: caruru sem azeite e bem temperado
Planeta regente: Lua (no quarto crescente) e Mercúrio
Ervas para banho e defumação: agapanto lilás, avenca, cipreste, manacá, quaresma, alfavaca, mariazinha, mãe-boa, sempre-viva roxa, erva de passarinho, cajá, mutamba, dama da noite, entre outras.
Flores: as que tenham preferencialmente a tonalidade lilás ou roxa.
Frutos: melão, melancia, abacaxi, banana da terra, graviola, pêssego, , jaca, maçã, entre outras.
Bebidas: Água da chuva, suco das frutas acima mencionadas, bebida feita com ervas e folhas do próprio orixá e champanha.
Local preferido: Nas nuvens ou na junção das águas da chuva com o solo barrento e pantanoso.
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