domingo, 2 de maio de 2010

Os Orixás

Para o Iorubá, os Orixás são ancestrais divinos, homens e mulheres, que por terem feito atos excepcionais enquanto vivos, destacaram-se na comunidade e passaram a ser cultuados por seus descendentes e até mesmo por outros clãs. Os Orixás passam a deter os ensinamentos da comunidade. Estes feitos excepcionais ou heróicos são entendidos como a capacidade de controle e uso das forças da natureza ou Axé. Axé, em Iorubá, é compreendido como energia vital, presente em todos os elementos da natureza, sem Axé não haveria existência; é o princípio que torna possível a vida. O Axé pode ser transmitido a outros objetos ou seres humanos.
Entendemos os Orixás como personagens arquetípicos que reúnem em seu sistema mitológico ensinamentos valiosos sobre as mais variadas áreas de experiência humana e são as expressões de grandes forças cósmicas, estando associados ao mito da criação e seu Axé. Divindades, os Orixás são o meio de comunicação de um deus, superior e distante, com os homens. Estabelecem, desta forma, o contato entre o mundo sagrado e o mundo dos homens, representando uma força universal.
A determinação do Orixá protetor é de grande importância, uma vez que se acredita que cada ser humano, desde o momento em que foi concebido, já tem o seu Orixá protetor de cabeça.
O corpo humano, para o Iorubá , é um microcosmo e nele estão contidos todos os elementos e forças da natureza que, distribuídos harmoniosamente pelo corpo, explicam a sua mitologia. Segundo Augras,
“…os pés apoiam-se no concreto, no barro de onde saiu e para onde voltará, na terra que os antepassados pisaram e à qual retornaram. O pé direito corresponde à herança dos antepassados masculinos, e o pé esquerdo, à herança feminina. As mãos direita e esquerda, atuam sobre o mundo e transformam as coisas. A cabeça, que reproduz as quatro dimensões do espaço, contém, na interseção dos pontos cardeais, o centro da individualidade, ori-inu, manifestação do duplo sagrado, que provém de substância divina, da qual os próprios deuses são tributários” (1983,62).
Na tentativa de estabelecer contato com o divino, o reconhecimento dos deuses acontece primeiramente no corpo dos seus fiéis, com a representação feita através de uma atividade corporal, que catalisa os sentimentos e sensações dos arquétipos e as forças da natureza, a dança. Por essa importância dada ao corpo, a dança no ritual representa um determinante elemento do processo, pois é por intermédio desta que acontece a corporificação da entidade; o corpo, ao dançar, intermedia o mundo sagrado com o profano.
Na utilização de movimento, cantos e ritmos e na perspectiva de harmonizar-se com eles, teatralizam seus deuses encarnados e os recontam, através de um desenvolvimento muito bem definido e rígido, que inclui ritos de entrada, transe e ritos de saída.

AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS
A água é muito utilizada nas casa de Candomblé. Em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante, desde o rito do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as ajé, até o ritual das águas de Oxalá, quando ela representa a limpeza lustral do egbe.
Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Diría ainda que as águas de Oxalá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado.
É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exu e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.
Entre os eboras ou orixás femininos, destacamos aqui Nàna que está associada à terra, à lama e também às águas. Nàna ou Nàna Burúkú ou Nàna Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons.
Outro orixá feminino associado à água é o orixá Òsun. Oxum tem toda a sua história ligada às águas pois, na Nigéria, Òsun é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do orixá.
Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oya".
Não diferente dos demais orixás femininos, Yemanjá também está muito ligada às águas. É o orixá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemonja e o rio Ogun – não confundir com o orixá Ogun, Deus do ferro. Daí Yemonja estar associada à expressão Odò Iyá, ou seja, "Mãe dos Rios".
Resumindo, a água é um elemento natural aos orixás femininos. Não só dentro do culto de Candomblé, mas como em toda a vida, ela é de suma importância pois, como é dito, a água é o princípio da vida.

EWÁ

 
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este  seu principal encantamento: o ciclo interminável  de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz  e desfaz, num verdadeiro  balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
 A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
 
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a  segunda  a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já  passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher  um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá  e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água  no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá  não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos  homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
 
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê  com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.

IANSÃ

   
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
 
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história  conta que Iansã  percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi  a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo  e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã  partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã  tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã  então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã  relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
 
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
 
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru  (rabo de boi ou de búfalo)  

IEMANJÁ

   
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É  Iemanjá  que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas  que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções  que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá  é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás  como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está  presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá  quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância  muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar,  viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá   é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
 
Mitologia
     Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande  luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
 
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.

NANÃ

   
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe  da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem  permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder  que ostenta. É ela a mãe da varíola  e se faz presente  quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie  de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
 
Mitologia
 Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas  Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o  importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum  era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!,   retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio  da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que  tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi  sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas  vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
 
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBÁ

 
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da  natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
 
Mitologia
Uma vez  banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum  mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum  partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária  e tinha em mente tomá-la  para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
 
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.

OXUM

   
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito  maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência  desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente  no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o  mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem  gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do  candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está  presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência  mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência  para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
ÒSUN (OXUM) - ORIGEM DO NOME DE OSOGBO
Òsun é o orixá considerado mãe da água doce e senhora do ouro.
O arquétipo das filhas de Òsun é o das mulheres graciosas e elegantes gostando do conforto, bom gosto e tendo um toque aristocrático em tudo que fazem.
Òsun também chamada de Iyalóòide em Osogbò, na Nigéria, onde iyá= "mãe" e lóòde="rainha de todos os rios".
Òsun tem fundamentalmente seus axés nas pedras do Rio Osun, nas jóias de cobre e num pente de tartaruga. O amor de Òsun pelo cobre, o metal mais precioso do país yorubá nos tempos antigos é mencionado nas saudações que assim lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Òsun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos.”
No Brasil, Òsun foi ligada ao ouro, isso devido a esse metal ser de grande importância para a confecção de jóias, uma das paixões de Òsun.
A cidade de Osogbò recebeu este nome depois que Laro, após muitas atribuições, veio instalar-se às margens do rio Òsun. Laro achou aquele local ideal para estabelecer uma cidade e ali fixar seu povo. Dias depois, uma das suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. No dia seguinte, ela retornou muito bem vestida e enfeitada com muitas jóias, dizendo ter sido muito bem tratada pela divindade do rio. Agradecendo então o regresso de sua filha, Laro dedicou à Òsun muitas oferendas e numerosos peixes. Mensageiros da divindade vieram comer em sinal de aceitação às oferendas que Laro havia depositado nas águas. Um grande peixe cuspiu-lhe água e ele a recolheu numa cabaça e bebeu: estava selada a aliança entre Òsun & Laro. Este peixe saltou sobre as mãos de Laro e a partir desse momento recebeu o título de Ataoejá ou Atáoja, que quer dizer “aquele que recebe o peixe (ejá)”e declarou Òsun Gbó ou “Òsun está em estado de maturidade”.
Essa foi a origem do nome da cidade de Òsogbo, onde até os dias de hoje encontram-se os descendentes de Laro que honram o pacto feito no passado.
 
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça  muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino  a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi  Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai!  Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara  de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz  tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
 
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea  (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê

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domingo, 2 de maio de 2010

Os Orixás

Para o Iorubá, os Orixás são ancestrais divinos, homens e mulheres, que por terem feito atos excepcionais enquanto vivos, destacaram-se na comunidade e passaram a ser cultuados por seus descendentes e até mesmo por outros clãs. Os Orixás passam a deter os ensinamentos da comunidade. Estes feitos excepcionais ou heróicos são entendidos como a capacidade de controle e uso das forças da natureza ou Axé. Axé, em Iorubá, é compreendido como energia vital, presente em todos os elementos da natureza, sem Axé não haveria existência; é o princípio que torna possível a vida. O Axé pode ser transmitido a outros objetos ou seres humanos.
Entendemos os Orixás como personagens arquetípicos que reúnem em seu sistema mitológico ensinamentos valiosos sobre as mais variadas áreas de experiência humana e são as expressões de grandes forças cósmicas, estando associados ao mito da criação e seu Axé. Divindades, os Orixás são o meio de comunicação de um deus, superior e distante, com os homens. Estabelecem, desta forma, o contato entre o mundo sagrado e o mundo dos homens, representando uma força universal.
A determinação do Orixá protetor é de grande importância, uma vez que se acredita que cada ser humano, desde o momento em que foi concebido, já tem o seu Orixá protetor de cabeça.
O corpo humano, para o Iorubá , é um microcosmo e nele estão contidos todos os elementos e forças da natureza que, distribuídos harmoniosamente pelo corpo, explicam a sua mitologia. Segundo Augras,
“…os pés apoiam-se no concreto, no barro de onde saiu e para onde voltará, na terra que os antepassados pisaram e à qual retornaram. O pé direito corresponde à herança dos antepassados masculinos, e o pé esquerdo, à herança feminina. As mãos direita e esquerda, atuam sobre o mundo e transformam as coisas. A cabeça, que reproduz as quatro dimensões do espaço, contém, na interseção dos pontos cardeais, o centro da individualidade, ori-inu, manifestação do duplo sagrado, que provém de substância divina, da qual os próprios deuses são tributários” (1983,62).
Na tentativa de estabelecer contato com o divino, o reconhecimento dos deuses acontece primeiramente no corpo dos seus fiéis, com a representação feita através de uma atividade corporal, que catalisa os sentimentos e sensações dos arquétipos e as forças da natureza, a dança. Por essa importância dada ao corpo, a dança no ritual representa um determinante elemento do processo, pois é por intermédio desta que acontece a corporificação da entidade; o corpo, ao dançar, intermedia o mundo sagrado com o profano.
Na utilização de movimento, cantos e ritmos e na perspectiva de harmonizar-se com eles, teatralizam seus deuses encarnados e os recontam, através de um desenvolvimento muito bem definido e rígido, que inclui ritos de entrada, transe e ritos de saída.

AS ÁGUAS E OS ORIXÁS FEMININOS
A água é muito utilizada nas casa de Candomblé. Em muitos ritos ela aparece tendo um significado muito importante, desde o rito do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as ajé, até o ritual das águas de Oxalá, quando ela representa a limpeza lustral do egbe.
Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, os pedidos e rituais a serem desenvolvidos. Deitar água é iniciar e propiciar um ciclo. Diría ainda que as águas de Oxalá pelas quais começa o ano litúrgico yorubá tem precisamente este significado.
É comum ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé vir uma filha da casa com uma quartinha com água e despejar esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exu e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.
Entre os eboras ou orixás femininos, destacamos aqui Nàna que está associada à terra, à lama e também às águas. Nàna ou Nàna Burúkú ou Nàna Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, foi considerada como o ancestre feminino dos povos fons.
Outro orixá feminino associado à água é o orixá Òsun. Oxum tem toda a sua história ligada às águas pois, na Nigéria, Òsun é a divindade do rio que recebe o mesmo nome do orixá.
Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Niger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oya".
Não diferente dos demais orixás femininos, Yemanjá também está muito ligada às águas. É o orixá que em terra yorubá é patrona de dois rios: o rio Yemonja e o rio Ogun – não confundir com o orixá Ogun, Deus do ferro. Daí Yemonja estar associada à expressão Odò Iyá, ou seja, "Mãe dos Rios".
Resumindo, a água é um elemento natural aos orixás femininos. Não só dentro do culto de Candomblé, mas como em toda a vida, ela é de suma importância pois, como é dito, a água é o princípio da vida.

EWÁ

 
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este  seu principal encantamento: o ciclo interminável  de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz  e desfaz, num verdadeiro  balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
 A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
 
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a  segunda  a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já  passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher  um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá  e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água  no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá  não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos  homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
 
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê  com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.

IANSÃ

   
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
 
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história  conta que Iansã  percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi  a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo  e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã  partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã  tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã  então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã  relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
 
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
 
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru  (rabo de boi ou de búfalo)  

IEMANJÁ

   
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É  Iemanjá  que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas  que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções  que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá  é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás  como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está  presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá  quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância  muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar,  viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá   é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
 
Mitologia
     Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande  luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
 
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.

NANÃ

   
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe  da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem  permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder  que ostenta. É ela a mãe da varíola  e se faz presente  quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie  de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
 
Mitologia
 Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas  Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o  importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum  era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!,   retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio  da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que  tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi  sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas  vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
 
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBÁ

 
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da  natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
 
Mitologia
Uma vez  banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum  mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum  partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária  e tinha em mente tomá-la  para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
 
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.

OXUM

   
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito  maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência  desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente  no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o  mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem  gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do  candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está  presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência  mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência  para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
ÒSUN (OXUM) - ORIGEM DO NOME DE OSOGBO
Òsun é o orixá considerado mãe da água doce e senhora do ouro.
O arquétipo das filhas de Òsun é o das mulheres graciosas e elegantes gostando do conforto, bom gosto e tendo um toque aristocrático em tudo que fazem.
Òsun também chamada de Iyalóòide em Osogbò, na Nigéria, onde iyá= "mãe" e lóòde="rainha de todos os rios".
Òsun tem fundamentalmente seus axés nas pedras do Rio Osun, nas jóias de cobre e num pente de tartaruga. O amor de Òsun pelo cobre, o metal mais precioso do país yorubá nos tempos antigos é mencionado nas saudações que assim lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Òsun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos.”
No Brasil, Òsun foi ligada ao ouro, isso devido a esse metal ser de grande importância para a confecção de jóias, uma das paixões de Òsun.
A cidade de Osogbò recebeu este nome depois que Laro, após muitas atribuições, veio instalar-se às margens do rio Òsun. Laro achou aquele local ideal para estabelecer uma cidade e ali fixar seu povo. Dias depois, uma das suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. No dia seguinte, ela retornou muito bem vestida e enfeitada com muitas jóias, dizendo ter sido muito bem tratada pela divindade do rio. Agradecendo então o regresso de sua filha, Laro dedicou à Òsun muitas oferendas e numerosos peixes. Mensageiros da divindade vieram comer em sinal de aceitação às oferendas que Laro havia depositado nas águas. Um grande peixe cuspiu-lhe água e ele a recolheu numa cabaça e bebeu: estava selada a aliança entre Òsun & Laro. Este peixe saltou sobre as mãos de Laro e a partir desse momento recebeu o título de Ataoejá ou Atáoja, que quer dizer “aquele que recebe o peixe (ejá)”e declarou Òsun Gbó ou “Òsun está em estado de maturidade”.
Essa foi a origem do nome da cidade de Òsogbo, onde até os dias de hoje encontram-se os descendentes de Laro que honram o pacto feito no passado.
 
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça  muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino  a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi  Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai!  Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara  de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz  tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
 
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea  (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê

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