domingo, 2 de maio de 2010

Nanã

   
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe  da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem  permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder  que ostenta. É ela a mãe da varíola  e se faz presente  quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie  de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
 
Mitologia
 Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas  Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o  importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum  era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!,   retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio  da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que  tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi  sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas  vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
 
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)



Nanã Buruku ou Buku é considerada a mais antiga das divindades. Muito cultuada na África em regiões como: Daça Zumê, Abomey, Dumê, Cheti, Bodé, Lubá, Banté, Djabalá, Pesi e muitas outras regiões.
Para os fons e ewes, a palavra Nanã ou Nàná é empregada para se chamar de mãe as mulheres idosas e respeitáveis, ou seja, a palavra Nanã significa: "Respeitável Senhora".
Nanã está associada à terra, à água e à lama. Os pântanos e as águas lodosas são o seu domínio.
Como relatei no começo, é a mais antiga das divindades, pois representa a memória ancestral. Mãe de Loko ou Irokô, Omolu e Oxumare ou Becém na dinastia Fon, Nanã está ligada ao mistério da vida e da morte. É a senhora da sabedoria, mais velha que o ferro. Daí, não usar lâminas em seu culto.

Nanan proprietária de um cajado. Nanan salpicada de vermelho, suas roupas parecem banhadas em sangue, orisa que obriga o fon a falar nagô (ketu). Água parada que mata derrepente, ela mata uma cabra sem usar faca.
É considerada "orisa mais antigo do mundo". Quando orunmilá chegou aqui para frutificar a terra, ela já estava. Nanan desconhece o ferro por trata-se de um orixá da pré-história, anterior a idade do ferro. O termo nanan significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra.
NANÃ, A DEUSA DA VIDA E DA MORTE
Nanã é um orixá feminino de origem daomeana, adotada da África que representa o dogbê (vida) e a doku (morte). Ela acolhe em seu ventre os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (renascimento). Essa dualidade é representada por Nanã que personifica os pântanos. É neles que a mistura da água (vida) e da terra (morte), formando a lama, existe um portal entre as dimensões dos vivos e dos mortos. O pântano ou a lama, foi o local escolhido por Nanã para ser sua residência. Entretanto, para haver barro ou lama, tem que haver chuva, Nanã passou também a reger a chuva.
Nanã é conhecida por vários nomes, dependendo da região e do dialeto, mas em Dahomey (hoje Benin) na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, ela é conhecida como Nanã Buruku . Ela está fortemente ligada ao elemento terra e é chamada de "Senhora dos Pântanos", assinalando-a como uma Grande Mãe que é responsável pelo sopro da vida e conseqüentemente a morte.
Nanã sempre conduz os seres humanos com muita seriedade, justiça e determinação. Seus cânticos são súplicas para que a morte seja mantida afastada e que a vida seja preservada.
Sendo a personificação da "lama" ou da "chuva", Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura (período neolítico).

MITOLOGIA

Nanã de origem daomeana,  foi incorporada há séculos pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida.
Nesse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos,. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.
Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o conceito de maternidade como função principal.
É neste contexto, que Nanã apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omulu (ou Obaluaê, orixá da varíola) e Oxumarê (orixá do arco-íris).
E teria tido uma filha, Ewá, nascida de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o mito.

NANÃ NO BRASIL
Aqui no Brasil, os escravos africanos introduziram com muito êxito suas divindades, como a Deusa Nanã, Oya, entre outras, nas religiões como o candomblé, a umbanda e o batuque. Essas religiões incluem a possessão por parte dos deuses. Quando Nanã se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba!

SEUS INICIADOS
Seus sacerdotes e sacerdotisas são experientes à prática da medicina através das ervas, pois Nanã é detentora do conhecimento do uso terapêutico delas (ervas). Mas a Deusa explica ainda, que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças podem ter origem espiritual e portanto, requer tratamento nesse sentido. Mas, qualquer que seja a origem da doença, se a pessoa enferma recorrer à Nanã, obterá o remédio curador.
Muitas mulheres recorrem à essa Deusa quando não conseguem engravidar e Nanã ensina prontamente a mistura de ervas que deve tomar, assim como os "ebós" e oferendas que devem ser feitos. Caso sejam atendidas, é costume na África, em homenagem à Deusa, acrescentar ao nome da criança a palavra "nanã". Todos seus sacerdotes e sacerdotisas também usam na frente do nome esse prefixo.
Na África as mulheres menstruadas são impedidas de entrar em seu templo ou fazer comida de santo. Nanã fala que a bogami (menstruação) é um sangue impuro e diz para as mulheres não cozinharem para seus maridos quando estiverem menstruadas. Aqui vemos claramente traços de um período muito arcaico (neolítico) em que o sangue da menstruação ainda era considerado impuro.
NANÃ E HÉCATE
Nanã é também uma Deusa da Lua Escura que muito se assemelha a Hécate nas funções de regente dos processos misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da vida e da entrada nos caminhos árduos da transformação. A nível psíquico, essas passagens não podem ser eliminadas do curso normal da vida.
Nanã, assim como Hécate é a Deusa Terra primordial que dá nascimento às sementes e acolhe em seu seio os mortos. Tanto pode dar vida como a morte, seqüências da mesma realidade. É ainda, Dona da sabedoria e da justiça, que vem da natureza e a sua lei é implacável.
Nanã o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro, que é feito com palitos de dendezeiro e nasceu junto com ela, na sua placenta.  O sincretismo de Nanã com Sant'Ana, avó maternal de Jesus, e padroeira dos professores, reforça a impressão de que ela é muito antiga e que sua chegada ao Brasil foi anterior à dos Yorubas.
A Deusa tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nana.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nana é o "grão", pois ela possui o domínio da agricultura e todo "grão" tem que morrer para germinar.
 
MITOLOGIA

LENDA 1 (Mitologia Fon)
Na mitologia Fon, Nanã Buruku (ou Buluku) que deu nascimento ao gêmeos: Lisa e Mawu. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Mawu-Lisa criaram todo o Universo e os Voduns juntos. Eles eclipsaram várias vezes e tiveram no total sete casais de gêmeos (sempre um masculino e o outro feminino).
Mawu e Lisa chamaram seu filhos e os enviaram à Terra como os primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma atribuição. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio ao mundo e aos seres viventes.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão. Já Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam cumpridas.
Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado na rica, complexa e elevada Mitologia Fon. Sua entrada no em nosso país ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey  e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
NANÃ BURUKU
Nanã Buruku está associada com as Onze Energias cósmicas e é íntima delas compreendidas ma religião da Umbanda. É denominada como a "Avó de todos os Orixás". Nada acontece sem que ela tenha conhecimento, sempre presente, desde a criação incessante do universo até o desenrolar contínuo da atividade existencial de todos os seres e elementos que compõem o organismo vivo do nosso planeta. Soma-se com outras Energias para, juntas, comporem a forma mais sutil e perspicaz orixá: Oxumaré que personifica a curva do arco-íris.
Na Umbanda, Nanã é configurada pelos fiéis e "filhos de cabeça" como sendo fisicamente uma senhora sempre curvada pelo peso das eras e cujo rosto nunca é visto, porque está sempre encoberto. Sua imagem está projetada na figura de um devoto que canta e dança em seu louvor, mimeticamente, como se embalasse uma criança. Outras vezes com as mãos juntas como se socasse um pilão. Sua postura em muito se parece com o orixá Omolu com o qual parte e reparte suas próprias vibrações preferenciais e idiossincrásicas.
É conhecida também por: Bukuú (Togo), Naná Buluku (Benin, ex-Daomé), Borokô (candomblés de caboclo), Tobossi (fantiashanti), Kerê-Kerê (Angola e Congo) e mais as variantes Naná, Nanã, Nanã Buruquê, Buruku, Ananburuquê, Anaburuku, Naná Buku, Naná Brukung e, na língua yoruba como Nanã Buruiku.
LENDA 2
Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.

Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.

Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o Homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.

Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a terra, voltar a natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Essa lenda descreve a natureza de Nanã como a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
LENDA 3
Essa terceira lenda conta que Nanã foi conquistar o reino de Oxalá e acabou sendo conquistada por ele. Entretanto, o deus amava muito sua esposa, Iemanjá, e jamais se envolveria com Nanã. Essa então, o embriagou e o seduziu, engravidando. Desse ato adúltero nasceu Obaluiaê, uma criança muito feia e deformada que foi abandonada no mar. Iemanjá o encontrou meio morto e todo mordido pelos peixes e o cuidou até que ficasse curado. Para esconder as cicatrizes que permaneceram em seu corpo, ele foi coberto de palha. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.

Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas.

Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.

Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando desgraças aconteçam aos homens.

 Essa lenda nos aconselha a nunca negar auxílio, qualquer que seja, às pessoas que nos procuram. Além disso, nos diz para termos esperança, pois "não há mal que sempre dure.." e sempre há um recomeço, mesmo após um grande e penoso sofrimento.
LENDA 4
"Nanã era esposa de Oxalá e ocupava o cargo de juíza no Daomé. Só julgava os homens, sendo muito respeitada pelas mulheres que eram consideradas Deusas.

Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma reclamação sobre seu marido, ela amarrava a pessoa numa arvore e pediu aos eguns para assustá-la.

Certa noite, Iansã reclamou de Ogum e ele foi amarrado no jardim. A noite, conseguiu escapulir e foi falar com ifá. A situação não podia continuar e, assim, ficou acertado que oxalá tiraria os poderes de Nanã. Ele se aproximou e ofereceu a ela suco de igbin, um tipo de caramujo. Ao beber o preparado, Nanã adormeceu. Oxalá então vestiu-se de mulher e, imitando o jeito de Nanã, pediu aos Eguns que fossem embora de seu jardim para sempre.
Quando Nanã acordou e percebeu o que Oxalá tinha feito, obrigou-o a tomar o mesmo preparado de igbin e seduziu o orixá. Oxalá saiu correndo e contou para Ogum o que havia acontecido. Indignado, este cortou relações com Nanã. E é por isso que nas oferendas a Nanã não é usado nenhum objeto de metal.

Uma outra lenda registra que, numa reunião, os orixás aclamaram ogum como o mais importante deles e que Nanã, não se conformando em ser derrotada por ele, assumiu que não mais usaria os utensílios de metal criados pelo orixá guerreiro (escudos e lanças de guerra, facas e setas para caça e pesca). Por isso, que ela não aceita oferendas em que apresentem objetos de metal."
(Lenda retirada do portal HYPERLINK "http://www.orixas.com.br" http://www.orixas.com.br )
Essa lenda, vem de encontro à tese de alguns historiadores que afirmam que a Deusa Nanã é anterior a Idade do Ferro.
DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM (Segundo Pierre Verger)
"Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.
Um dia eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu:
-"Ah! É um importante mensageiro!"
Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Eles dizem:
-"É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"
Nanã Buruku contesta, então:
-"Não digam isso. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"
Os demais orixás respondem:
-"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".
Nanã concluiu que não renderá homenagem a Ogum.
-"Porque não haverá um outro Imalé mais importante?"
Ogum diz:
-"Ah!Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."
Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos  discutem por muito tempo.
Ogum perguntando:
-"Você pretende que seja dispensável?"
Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.
Ogum diz então:
"Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas".
Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.
Ogum questiona:
-"Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos".
Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã".
(Lenda retirada do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)
DEUSA DA VIDA, DA MORTE E DO RENASCIMENTO
Nanã é uma Deusa que se inseri no período Neolítico ou até antes dele, onde não existe distinção alguma entre a Deusa que atrai a vida e a que atrai a morte, mas ambas se experimentam como uma unidade, através da Grande Mãe que engloba a totalidade da vida e da morte. A Deusa transforma a experiência da morte em como o renascimento à outra dimensão.
O período Neolítico foi uma fase de descobrimentos e o resultado disso foi uma nova relação com o universo. Foi nesse tempo que a humanidade compreendeu e passou a participar dos misteriosos processos de crescimento. Com a compreensão que certas sementes podiam ser convertidas em trigo e depois transformados em pão, e que certos animais vivendo perto das casas, poderia prover-lhes de leite, carne, surgiu um novo espírito que cooperação consciente entre os seres humanos e seu mundo. A vida do cosmos se converteu em uma história que incluía o homem como um de seus personagens.
Os povos deste período não puderam de realizar uma analogia de suas vidas com as das sementes que, plantadas na terra, incubavam e voltavam a emergir como grão verde ou dourado. Os rituais que evocavam o nascimento, que chorava a morte e que celebravam o renascimento da raiz mostra o quanto era vital essa analogia para a imaginação humana, pois situava a regeneração como o núcleo da vida.
A fonte secreta da vida estava agora escondida nas profundezas da terra (útero da Deusa). Os seres humanos agora nascem dela, se alimentam dela e são acolhidos por ela.
As inumeráveis formas de cerâmica neolítica revelam o alcance imaginativo dos povos, que refletiam sobre o mistério do nascimento associando-o ao mais amplo mistério do nascimento de toda a vida mediante o "Corpo" da Deusa. As imagens da Deusa a mostram como o portal ou umbral através da qual penetra vida ou abandona esse mundo.
Toda a Grande Mãe, segundo Carl Jung, personifica o nosso inconsciente, portanto, um aspecto gerador, protetor e positivo, apesar do seu lado devorador e negativo. Todo o tipo de medo, como o medo da morte, do desconhecido, do novo, está ligado ao medo do inconsciente. O inconsciente, como a Grande Mãe, é a fonte primordial da criação, mas se o fascínio dela for forte demais, ela é o poder oculto que, em certas ocasiões, impede o livre desenvolvimento da comunicação normal. Mas, se encararmos essa realidade básica, podemos desistir de sermos tão agradáveis aos imperativos ideais do mundo patriarcal e atingirmos uma base sólida, de onde tudo isso parece irrelevante.

A DIFUSÃO DA DEUSA NEGRA

Dos tempos pré-históricos, em torno de trinta mil anos antes da era cristã, provém a Vênus negra de Lespugue, entalhada numa presa de mamute, agora preservada no Musée de l"Homme, em Paris. Por ser anterior a uma época em que não existia conhecimento algum de agricultura, ela é mais do que terra, ela é a própria Vida.
Em Tindari, na costa do Mediterrâneo no leste da Sicília, uma estátua negra da Nossa Senhora possui a inscrição: "nigra sum sed formoso", ou seja, "Sou negra, porém formosa", do Cântico de Salomão 1,5. A Virgem Negra também é encontrada na França, na Espanha, na Suíça e na Polônia.
Não poderia portanto ser essa Nossa Senhora negra a mais antiga das imagens da Deusa?
Há historiadores que postulam que da figura da Deusa Negra procedem todas as demais.
Apesar de que a humanidade surgiu no noroeste da África, é possível que os temas dominantes que se repetem nos mitos e nos rituais de todo o mundo só se desenvolveram quando os povoadores já haviam trasladado à outras regiões.
Historiadores negros do século XX, como John G. Jackson, afirmam que os povos africanos da costa foram consumados marinheiros e exploradores que levaram à Ásia, Europa, América e Oceania a cultura matriarcal da Deusa. Portanto, as virgens negras presentes na Europa, que são interpretadas como representantes da "lua escura" ou ainda, uma "escura faceta" psicológica da Deusa, não são mais do que vestígios da época em a Deusa era realmente negra.
É inegável a vastíssima contribuição da cultura africana na cultura, na religião e nos costumes aqui do Brasil. Nada mais fácil sentir esse contribuição no que tange as religiões que hoje são afro-brasileiras. Deusas como Iemanjá, Iansã, Oxum, Nanã entre muitas outras também importantes, são muito populares em nosso meio, mas sempre é bom acrescentarmos um pouco mais de conhecimento sobre elas.
Sem nos atermos em questionamentos religiosos, essas Deusas Mães, estão presentes e ativas em nossas vidas, para não nos deixar esquecer que o melhor dos caminhos é o do coração e o da fé. Todas elas simbolizam a força maior, a fagulha divina dentro de nós, a energia que flui nos próprios processos da vida e do viver. Esse conceito da Deusa como processo de vida conduz a outro aspecto da espiritualidade feminina contemporânea, observado entre muitos grupos e indivíduos. Trata-se do sentido da conexão direta com a vida. Muitos são os que pensam que não estamos no topo da natureza, e sim, "somos" a natureza. Esse senso de Unidade, aflora constantemente em conversas e escritos. Isso nos ajuda a compreender que aquilo que poderíamos considerar simplesmente como compaixão ou apoio ou simpatia é o resultado do sentir, intuitivo, dessa ligação direta com a unidade. Essa sensação de Unidade com toda a vida leva muitas mulheres, de forma bastante natural, a uma compreensão direta do motivo pelo qual o sexismo, o racismo e outros "ismos" que criam uma sensação de separação, de "nós e os outros", realmente não fazem sentido.
OUTROS DADOS
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Sincretismo: Nossa Senhora Santana
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Mugunzá; Ebô
Símbolo: Ìbírí (feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna).
Saudação: Salubá Nanã! ! ("Dona do pote da Terra!")
Comando da falange de Nanã: Cabocla Janaína
Representação no ponto riscado: uma cruz
Amalá: caruru sem azeite e bem temperado
Planeta regente: Lua (no quarto crescente) e Mercúrio
Ervas para banho e defumação: agapanto lilás, avenca, cipreste, manacá, quaresma, alfavaca, mariazinha, mãe-boa, sempre-viva roxa, erva de passarinho, cajá, mutamba, dama da noite, entre outras.
Flores: as que tenham preferencialmente a tonalidade lilás ou roxa.
Frutos: melão, melancia, abacaxi, banana da terra, graviola, pêssego, , jaca, maçã, entre outras.
Bebidas: Água da chuva, suco das frutas acima mencionadas, bebida feita com ervas e folhas do próprio orixá e champanha.
Local preferido: Nas nuvens ou na junção das águas da chuva com o solo barrento e pantanoso.

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domingo, 2 de maio de 2010

Nanã

   
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe  da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem  permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder  que ostenta. É ela a mãe da varíola  e se faz presente  quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie  de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
 
Mitologia
 Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas  Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o  importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum  era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!,   retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio  da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que  tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi  sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas  vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
 
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)



Nanã Buruku ou Buku é considerada a mais antiga das divindades. Muito cultuada na África em regiões como: Daça Zumê, Abomey, Dumê, Cheti, Bodé, Lubá, Banté, Djabalá, Pesi e muitas outras regiões.
Para os fons e ewes, a palavra Nanã ou Nàná é empregada para se chamar de mãe as mulheres idosas e respeitáveis, ou seja, a palavra Nanã significa: "Respeitável Senhora".
Nanã está associada à terra, à água e à lama. Os pântanos e as águas lodosas são o seu domínio.
Como relatei no começo, é a mais antiga das divindades, pois representa a memória ancestral. Mãe de Loko ou Irokô, Omolu e Oxumare ou Becém na dinastia Fon, Nanã está ligada ao mistério da vida e da morte. É a senhora da sabedoria, mais velha que o ferro. Daí, não usar lâminas em seu culto.

Nanan proprietária de um cajado. Nanan salpicada de vermelho, suas roupas parecem banhadas em sangue, orisa que obriga o fon a falar nagô (ketu). Água parada que mata derrepente, ela mata uma cabra sem usar faca.
É considerada "orisa mais antigo do mundo". Quando orunmilá chegou aqui para frutificar a terra, ela já estava. Nanan desconhece o ferro por trata-se de um orixá da pré-história, anterior a idade do ferro. O termo nanan significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra.
NANÃ, A DEUSA DA VIDA E DA MORTE
Nanã é um orixá feminino de origem daomeana, adotada da África que representa o dogbê (vida) e a doku (morte). Ela acolhe em seu ventre os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (renascimento). Essa dualidade é representada por Nanã que personifica os pântanos. É neles que a mistura da água (vida) e da terra (morte), formando a lama, existe um portal entre as dimensões dos vivos e dos mortos. O pântano ou a lama, foi o local escolhido por Nanã para ser sua residência. Entretanto, para haver barro ou lama, tem que haver chuva, Nanã passou também a reger a chuva.
Nanã é conhecida por vários nomes, dependendo da região e do dialeto, mas em Dahomey (hoje Benin) na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, ela é conhecida como Nanã Buruku . Ela está fortemente ligada ao elemento terra e é chamada de "Senhora dos Pântanos", assinalando-a como uma Grande Mãe que é responsável pelo sopro da vida e conseqüentemente a morte.
Nanã sempre conduz os seres humanos com muita seriedade, justiça e determinação. Seus cânticos são súplicas para que a morte seja mantida afastada e que a vida seja preservada.
Sendo a personificação da "lama" ou da "chuva", Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura (período neolítico).

MITOLOGIA

Nanã de origem daomeana,  foi incorporada há séculos pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida.
Nesse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos,. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.
Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o conceito de maternidade como função principal.
É neste contexto, que Nanã apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omulu (ou Obaluaê, orixá da varíola) e Oxumarê (orixá do arco-íris).
E teria tido uma filha, Ewá, nascida de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o mito.

NANÃ NO BRASIL
Aqui no Brasil, os escravos africanos introduziram com muito êxito suas divindades, como a Deusa Nanã, Oya, entre outras, nas religiões como o candomblé, a umbanda e o batuque. Essas religiões incluem a possessão por parte dos deuses. Quando Nanã se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba!

SEUS INICIADOS
Seus sacerdotes e sacerdotisas são experientes à prática da medicina através das ervas, pois Nanã é detentora do conhecimento do uso terapêutico delas (ervas). Mas a Deusa explica ainda, que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças podem ter origem espiritual e portanto, requer tratamento nesse sentido. Mas, qualquer que seja a origem da doença, se a pessoa enferma recorrer à Nanã, obterá o remédio curador.
Muitas mulheres recorrem à essa Deusa quando não conseguem engravidar e Nanã ensina prontamente a mistura de ervas que deve tomar, assim como os "ebós" e oferendas que devem ser feitos. Caso sejam atendidas, é costume na África, em homenagem à Deusa, acrescentar ao nome da criança a palavra "nanã". Todos seus sacerdotes e sacerdotisas também usam na frente do nome esse prefixo.
Na África as mulheres menstruadas são impedidas de entrar em seu templo ou fazer comida de santo. Nanã fala que a bogami (menstruação) é um sangue impuro e diz para as mulheres não cozinharem para seus maridos quando estiverem menstruadas. Aqui vemos claramente traços de um período muito arcaico (neolítico) em que o sangue da menstruação ainda era considerado impuro.
NANÃ E HÉCATE
Nanã é também uma Deusa da Lua Escura que muito se assemelha a Hécate nas funções de regente dos processos misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da vida e da entrada nos caminhos árduos da transformação. A nível psíquico, essas passagens não podem ser eliminadas do curso normal da vida.
Nanã, assim como Hécate é a Deusa Terra primordial que dá nascimento às sementes e acolhe em seu seio os mortos. Tanto pode dar vida como a morte, seqüências da mesma realidade. É ainda, Dona da sabedoria e da justiça, que vem da natureza e a sua lei é implacável.
Nanã o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro, que é feito com palitos de dendezeiro e nasceu junto com ela, na sua placenta.  O sincretismo de Nanã com Sant'Ana, avó maternal de Jesus, e padroeira dos professores, reforça a impressão de que ela é muito antiga e que sua chegada ao Brasil foi anterior à dos Yorubas.
A Deusa tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nana.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nana é o "grão", pois ela possui o domínio da agricultura e todo "grão" tem que morrer para germinar.
 
MITOLOGIA

LENDA 1 (Mitologia Fon)
Na mitologia Fon, Nanã Buruku (ou Buluku) que deu nascimento ao gêmeos: Lisa e Mawu. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Mawu-Lisa criaram todo o Universo e os Voduns juntos. Eles eclipsaram várias vezes e tiveram no total sete casais de gêmeos (sempre um masculino e o outro feminino).
Mawu e Lisa chamaram seu filhos e os enviaram à Terra como os primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma atribuição. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio ao mundo e aos seres viventes.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão. Já Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam cumpridas.
Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado na rica, complexa e elevada Mitologia Fon. Sua entrada no em nosso país ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey  e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.
NANÃ BURUKU
Nanã Buruku está associada com as Onze Energias cósmicas e é íntima delas compreendidas ma religião da Umbanda. É denominada como a "Avó de todos os Orixás". Nada acontece sem que ela tenha conhecimento, sempre presente, desde a criação incessante do universo até o desenrolar contínuo da atividade existencial de todos os seres e elementos que compõem o organismo vivo do nosso planeta. Soma-se com outras Energias para, juntas, comporem a forma mais sutil e perspicaz orixá: Oxumaré que personifica a curva do arco-íris.
Na Umbanda, Nanã é configurada pelos fiéis e "filhos de cabeça" como sendo fisicamente uma senhora sempre curvada pelo peso das eras e cujo rosto nunca é visto, porque está sempre encoberto. Sua imagem está projetada na figura de um devoto que canta e dança em seu louvor, mimeticamente, como se embalasse uma criança. Outras vezes com as mãos juntas como se socasse um pilão. Sua postura em muito se parece com o orixá Omolu com o qual parte e reparte suas próprias vibrações preferenciais e idiossincrásicas.
É conhecida também por: Bukuú (Togo), Naná Buluku (Benin, ex-Daomé), Borokô (candomblés de caboclo), Tobossi (fantiashanti), Kerê-Kerê (Angola e Congo) e mais as variantes Naná, Nanã, Nanã Buruquê, Buruku, Ananburuquê, Anaburuku, Naná Buku, Naná Brukung e, na língua yoruba como Nanã Buruiku.
LENDA 2
Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.

Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.

Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o Homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.

Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a terra, voltar a natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Essa lenda descreve a natureza de Nanã como a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
LENDA 3
Essa terceira lenda conta que Nanã foi conquistar o reino de Oxalá e acabou sendo conquistada por ele. Entretanto, o deus amava muito sua esposa, Iemanjá, e jamais se envolveria com Nanã. Essa então, o embriagou e o seduziu, engravidando. Desse ato adúltero nasceu Obaluiaê, uma criança muito feia e deformada que foi abandonada no mar. Iemanjá o encontrou meio morto e todo mordido pelos peixes e o cuidou até que ficasse curado. Para esconder as cicatrizes que permaneceram em seu corpo, ele foi coberto de palha. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.

Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas.

Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.

Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando desgraças aconteçam aos homens.

 Essa lenda nos aconselha a nunca negar auxílio, qualquer que seja, às pessoas que nos procuram. Além disso, nos diz para termos esperança, pois "não há mal que sempre dure.." e sempre há um recomeço, mesmo após um grande e penoso sofrimento.
LENDA 4
"Nanã era esposa de Oxalá e ocupava o cargo de juíza no Daomé. Só julgava os homens, sendo muito respeitada pelas mulheres que eram consideradas Deusas.

Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma reclamação sobre seu marido, ela amarrava a pessoa numa arvore e pediu aos eguns para assustá-la.

Certa noite, Iansã reclamou de Ogum e ele foi amarrado no jardim. A noite, conseguiu escapulir e foi falar com ifá. A situação não podia continuar e, assim, ficou acertado que oxalá tiraria os poderes de Nanã. Ele se aproximou e ofereceu a ela suco de igbin, um tipo de caramujo. Ao beber o preparado, Nanã adormeceu. Oxalá então vestiu-se de mulher e, imitando o jeito de Nanã, pediu aos Eguns que fossem embora de seu jardim para sempre.
Quando Nanã acordou e percebeu o que Oxalá tinha feito, obrigou-o a tomar o mesmo preparado de igbin e seduziu o orixá. Oxalá saiu correndo e contou para Ogum o que havia acontecido. Indignado, este cortou relações com Nanã. E é por isso que nas oferendas a Nanã não é usado nenhum objeto de metal.

Uma outra lenda registra que, numa reunião, os orixás aclamaram ogum como o mais importante deles e que Nanã, não se conformando em ser derrotada por ele, assumiu que não mais usaria os utensílios de metal criados pelo orixá guerreiro (escudos e lanças de guerra, facas e setas para caça e pesca). Por isso, que ela não aceita oferendas em que apresentem objetos de metal."
(Lenda retirada do portal HYPERLINK "http://www.orixas.com.br" http://www.orixas.com.br )
Essa lenda, vem de encontro à tese de alguns historiadores que afirmam que a Deusa Nanã é anterior a Idade do Ferro.
DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM (Segundo Pierre Verger)
"Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.
Um dia eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu:
-"Ah! É um importante mensageiro!"
Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Eles dizem:
-"É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"
Nanã Buruku contesta, então:
-"Não digam isso. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"
Os demais orixás respondem:
-"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".
Nanã concluiu que não renderá homenagem a Ogum.
-"Porque não haverá um outro Imalé mais importante?"
Ogum diz:
-"Ah!Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."
Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos  discutem por muito tempo.
Ogum perguntando:
-"Você pretende que seja dispensável?"
Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.
Ogum diz então:
"Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas".
Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.
Ogum questiona:
-"Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos".
Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã".
(Lenda retirada do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)
DEUSA DA VIDA, DA MORTE E DO RENASCIMENTO
Nanã é uma Deusa que se inseri no período Neolítico ou até antes dele, onde não existe distinção alguma entre a Deusa que atrai a vida e a que atrai a morte, mas ambas se experimentam como uma unidade, através da Grande Mãe que engloba a totalidade da vida e da morte. A Deusa transforma a experiência da morte em como o renascimento à outra dimensão.
O período Neolítico foi uma fase de descobrimentos e o resultado disso foi uma nova relação com o universo. Foi nesse tempo que a humanidade compreendeu e passou a participar dos misteriosos processos de crescimento. Com a compreensão que certas sementes podiam ser convertidas em trigo e depois transformados em pão, e que certos animais vivendo perto das casas, poderia prover-lhes de leite, carne, surgiu um novo espírito que cooperação consciente entre os seres humanos e seu mundo. A vida do cosmos se converteu em uma história que incluía o homem como um de seus personagens.
Os povos deste período não puderam de realizar uma analogia de suas vidas com as das sementes que, plantadas na terra, incubavam e voltavam a emergir como grão verde ou dourado. Os rituais que evocavam o nascimento, que chorava a morte e que celebravam o renascimento da raiz mostra o quanto era vital essa analogia para a imaginação humana, pois situava a regeneração como o núcleo da vida.
A fonte secreta da vida estava agora escondida nas profundezas da terra (útero da Deusa). Os seres humanos agora nascem dela, se alimentam dela e são acolhidos por ela.
As inumeráveis formas de cerâmica neolítica revelam o alcance imaginativo dos povos, que refletiam sobre o mistério do nascimento associando-o ao mais amplo mistério do nascimento de toda a vida mediante o "Corpo" da Deusa. As imagens da Deusa a mostram como o portal ou umbral através da qual penetra vida ou abandona esse mundo.
Toda a Grande Mãe, segundo Carl Jung, personifica o nosso inconsciente, portanto, um aspecto gerador, protetor e positivo, apesar do seu lado devorador e negativo. Todo o tipo de medo, como o medo da morte, do desconhecido, do novo, está ligado ao medo do inconsciente. O inconsciente, como a Grande Mãe, é a fonte primordial da criação, mas se o fascínio dela for forte demais, ela é o poder oculto que, em certas ocasiões, impede o livre desenvolvimento da comunicação normal. Mas, se encararmos essa realidade básica, podemos desistir de sermos tão agradáveis aos imperativos ideais do mundo patriarcal e atingirmos uma base sólida, de onde tudo isso parece irrelevante.

A DIFUSÃO DA DEUSA NEGRA

Dos tempos pré-históricos, em torno de trinta mil anos antes da era cristã, provém a Vênus negra de Lespugue, entalhada numa presa de mamute, agora preservada no Musée de l"Homme, em Paris. Por ser anterior a uma época em que não existia conhecimento algum de agricultura, ela é mais do que terra, ela é a própria Vida.
Em Tindari, na costa do Mediterrâneo no leste da Sicília, uma estátua negra da Nossa Senhora possui a inscrição: "nigra sum sed formoso", ou seja, "Sou negra, porém formosa", do Cântico de Salomão 1,5. A Virgem Negra também é encontrada na França, na Espanha, na Suíça e na Polônia.
Não poderia portanto ser essa Nossa Senhora negra a mais antiga das imagens da Deusa?
Há historiadores que postulam que da figura da Deusa Negra procedem todas as demais.
Apesar de que a humanidade surgiu no noroeste da África, é possível que os temas dominantes que se repetem nos mitos e nos rituais de todo o mundo só se desenvolveram quando os povoadores já haviam trasladado à outras regiões.
Historiadores negros do século XX, como John G. Jackson, afirmam que os povos africanos da costa foram consumados marinheiros e exploradores que levaram à Ásia, Europa, América e Oceania a cultura matriarcal da Deusa. Portanto, as virgens negras presentes na Europa, que são interpretadas como representantes da "lua escura" ou ainda, uma "escura faceta" psicológica da Deusa, não são mais do que vestígios da época em a Deusa era realmente negra.
É inegável a vastíssima contribuição da cultura africana na cultura, na religião e nos costumes aqui do Brasil. Nada mais fácil sentir esse contribuição no que tange as religiões que hoje são afro-brasileiras. Deusas como Iemanjá, Iansã, Oxum, Nanã entre muitas outras também importantes, são muito populares em nosso meio, mas sempre é bom acrescentarmos um pouco mais de conhecimento sobre elas.
Sem nos atermos em questionamentos religiosos, essas Deusas Mães, estão presentes e ativas em nossas vidas, para não nos deixar esquecer que o melhor dos caminhos é o do coração e o da fé. Todas elas simbolizam a força maior, a fagulha divina dentro de nós, a energia que flui nos próprios processos da vida e do viver. Esse conceito da Deusa como processo de vida conduz a outro aspecto da espiritualidade feminina contemporânea, observado entre muitos grupos e indivíduos. Trata-se do sentido da conexão direta com a vida. Muitos são os que pensam que não estamos no topo da natureza, e sim, "somos" a natureza. Esse senso de Unidade, aflora constantemente em conversas e escritos. Isso nos ajuda a compreender que aquilo que poderíamos considerar simplesmente como compaixão ou apoio ou simpatia é o resultado do sentir, intuitivo, dessa ligação direta com a unidade. Essa sensação de Unidade com toda a vida leva muitas mulheres, de forma bastante natural, a uma compreensão direta do motivo pelo qual o sexismo, o racismo e outros "ismos" que criam uma sensação de separação, de "nós e os outros", realmente não fazem sentido.
OUTROS DADOS
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Sincretismo: Nossa Senhora Santana
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Mugunzá; Ebô
Símbolo: Ìbírí (feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna).
Saudação: Salubá Nanã! ! ("Dona do pote da Terra!")
Comando da falange de Nanã: Cabocla Janaína
Representação no ponto riscado: uma cruz
Amalá: caruru sem azeite e bem temperado
Planeta regente: Lua (no quarto crescente) e Mercúrio
Ervas para banho e defumação: agapanto lilás, avenca, cipreste, manacá, quaresma, alfavaca, mariazinha, mãe-boa, sempre-viva roxa, erva de passarinho, cajá, mutamba, dama da noite, entre outras.
Flores: as que tenham preferencialmente a tonalidade lilás ou roxa.
Frutos: melão, melancia, abacaxi, banana da terra, graviola, pêssego, , jaca, maçã, entre outras.
Bebidas: Água da chuva, suco das frutas acima mencionadas, bebida feita com ervas e folhas do próprio orixá e champanha.
Local preferido: Nas nuvens ou na junção das águas da chuva com o solo barrento e pantanoso.

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